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sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Ornette Coleman

Na época das lutas pelos direitos civis, os músicos de Jazz norte-americanos quiseram escamotear da sua música, aquilo que dela já era “aceitável” pelos brancos: a sua característica de entretenimento, a qualidade “dançável”. Quiseram dar à grande música negra uma vertente mais reflexiva ou intelectual. Ao fragmentarem a melodia e basearem as suas composições radicalmente na improvisação simultânea, estes músicos fizeram com o jazz o que os cubistas fizeram com a arte no início do século vinte: estilhaçaram as formas de ouvir, como estes tinham feito com as formas de ver.
Deram um passo em frente, abrindo novos caminhos, mas o seu trabalho tornou-se demasiado hermético para o seu próprio público, os negros (sabemos como os pobres gostam de dançar), tanto que actualmente entre os afro-americanos, a aceitação do jazz é confirmadamente residual.

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Helas, o jazz perdeu a América negra mas ganhou a branca sofisticada e até a Europa e o mundo, onde grande parte dos seus músicos ganhou fama e alguns, fortuna.
Esta música – o Free Jazz – que inspirou muitos caminhos das lutas de emancipação política e social do seu tempo e produziu enormes músicos como Coltrane, Ayler, Shepp, – está hoje algo datada.
A sua atitude radical, muitas vezes não era muito mais do que isso: uma atitude - que se estiolou em fundamentalismos programáticos e dogmas repetitivos vazios de sentido, como nas artes plásticas um certo cubismo que desembocou na aridez da ideia da abstracção pura. É claro que qualquer regra tem excepções que a confirmam, como Coltrane ou Ayler, improvisadores poderosos de imaginação.
Eu gostaria que também fosse esse o caso do seu pai fundador, Ornette Coleman. Este compositor de improvisações ininterruptas estará hoje à noite no Coliseu do Porto, com o seu quarteto. Eu gostaria, mas infelizmente não posso ir “ouvêr” para confirmar. Ou não.
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2 comentários:

PDuarte disse...

és uma maravilha, pá.

Vitor Guerreiro disse...

Belo post musical.

Um abraço

as traduções em catadupa têm obrigado a uma certa ausência.

Gosto do novo layout do blogue, fino!