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quinta-feira, 25 de setembro de 2008

improviso nº17 - a cunha equestre


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Há dias ouvi, distraidamente, na rádio, alguém referir-se à pertinência da erecção (sim, isso) em Portugal, de um monumento à cunha. Esse alguém referia-se mesmo à possibilidade de uma coisa equestre. Com o garbo e o panache das estátuas dos condotieri de antanho.
A cunha, essa ferramenta tão antiga e primitiva, mas primordial.
Para os portugueses ela é ainda a alavanca dos seus mais secretos desígnios.
Torna possível e alcançável desde um lugar no infantário até à ascensão social; desde o sucesso nos negócios à progressão na carreira, ao êxito desportivo (em Portugal, as vitórias cunham-se com mérito), e até mesmo ao reconhecimento do mérito artístico, eu sei lá.
Em Portugal não há oportunidade sem cunha e não há cunha sem merecimento. Sim, porque é preciso merecer uma cunha. O que seria do mérito sem a cunha?...
Urge portanto materializar uma homenagem a esse instrumento de emancipação dos portugueses.
Eu pensei nisso.
Aqui fica uma sugestão, à escala. Monumental.
O pedestal seria compósito, isto é, composto de duas partes, a saber: o pedestal propriamente dito, um bloco trapezoidal do mais negro granito e a cunha, na base, calçando o pedestal, no mais duro aço inoxidável (imperecível como um atavismo lusíada). Sobre o pedestal, empinada no mais alvo mármore de Carrara, a cavalar figura dos portugueses, coroada com uma cara em forma de cunha, em mármore rosa, de Estremoz.
A localização poderia ser em Lisboa, no Terreiro do Paço, a praça dos ministérios. Where else?
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