Há algo que persegue todos os pintores: a busca de uma receita para que “o todo seja igual à soma das partes", a sempre almejada sensação de equilíbrio e harmonia: o número de ouro. A Divina Proporção. O pintor Mário Silva achou esse princípio nesta minha pintura de 2003.
Segundo Leonardo, nada obedece tanto à Divina Proporção como o corpo humano. E quase nada serve tanto o corpo humano como uma cadeira.
Segundo Leonardo, nada obedece tanto à Divina Proporção como o corpo humano. E quase nada serve tanto o corpo humano como uma cadeira.
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A exemplo do arquitecto Le Corbusier (que estudou a arquitectura clássica, desenhou mobiliário e se interessou pela secção áurea), eu também quis conceber uma cadeira observando esse princípio.
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Dizem que Le Corbusier considerava as formas das modernas latrinas de fabrico industrial “mais belas do que as da Vitória da Samotrácia”, dito que lhe é atribuído para ilustrar o seu apreço pela utilidade - “Só o útil é belo” - e o seu desprezo pelo ornamento. O seu desvelo pelo útil ia ao ponto de, coloquialmente, se referir a objectos úteis como máquinas (coisas que "servem para"), por exemplo, uma casa era uma “machine a habiter”; uma latrina “une machine a chier” e uma cadeira… Uma “máquina de sentar”.
Dizem que Le Corbusier considerava as formas das modernas latrinas de fabrico industrial “mais belas do que as da Vitória da Samotrácia”, dito que lhe é atribuído para ilustrar o seu apreço pela utilidade - “Só o útil é belo” - e o seu desprezo pelo ornamento. O seu desvelo pelo útil ia ao ponto de, coloquialmente, se referir a objectos úteis como máquinas (coisas que "servem para"), por exemplo, uma casa era uma “machine a habiter”; uma latrina “une machine a chier” e uma cadeira… Uma “máquina de sentar”.
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Esta cadeira, a que chamei cadeira Φ (F) porque concebida sob o signo de Fídeas e do rectângulo áureo, possui também - através de alguns elementos quase ornamentais, que são referências ou alusões subliminares - um vago ar de máquina, ainda que primitiva.
É que, se os sovietes eram o comunismo + a electricidade, a minha cadeira é a divina proporção + um certo sentido da bizarria, quero dizer, o sentido do humor.
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É que, se os sovietes eram o comunismo + a electricidade, a minha cadeira é a divina proporção + um certo sentido da bizarria, quero dizer, o sentido do humor.
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Devo acrescentar que, para conceber esta cadeira, criei o meu próprio modulor (um sistema geométrico de proporções). Só que ao contrário do de Le Corbusier, a minha medida de referência fui eu próprio (o Homem é a medida de todas as coisas): helas, uns centímetros a menos do que o 1.83m do homem ideal do grande arquitecto… Não se pode ter tudo.
A cadeira Φ pode não ser tão bela como uma cadeira de Le Corbusier, mas é tão útil e certamente mais bela do que, sei lá, uma latrina da Samotrácia. Para mim, que a concebi, possui um je ne sais quoi da convulsa e derisória beleza dos surrealistas.
Esta beleza bizarra, construída em madeira de pinho e aço zincado, está na minha sala, à mesa das refeições. A ser útil. Eu cá acho que o útil, além de belo, não tem que ser chato. Quero dizer, aborrecido.
A cadeira Φ pode não ser tão bela como uma cadeira de Le Corbusier, mas é tão útil e certamente mais bela do que, sei lá, uma latrina da Samotrácia. Para mim, que a concebi, possui um je ne sais quoi da convulsa e derisória beleza dos surrealistas.
Esta beleza bizarra, construída em madeira de pinho e aço zincado, está na minha sala, à mesa das refeições. A ser útil. Eu cá acho que o útil, além de belo, não tem que ser chato. Quero dizer, aborrecido.
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