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terça-feira, 20 de outubro de 2015

a Luaty Beirão

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Há quem ache estranho o silêncio dos “intelectuais”, sobretudo dos artistas angolanos, a propósito do suplício “voluntário” de Luaty Beirão - o activista angolano em greve de fome numa prisão de Luanda há 30 dias. Está detido preventivamente desde Junho com outras quatorze pessoas acusadas de ”actos preparatórios de rebelião e atentado contra o Presidente.
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Eu, como tenho opinião e não me importo de a usar, também acho. 
O silêncio das elites intelectuais é, de facto, estranho. Não apenas sobre o causo específico de Luaty, e de cada um dos seus quatorze companheiros, mas sobre a sua causa: a de um estado cujo regime político que, suportado por uma elite inepta e venal, em quarenta anos de independência já possui o exército e a polícia mais bem equipados de toda a África mas não foi sequer capaz de tentar implantar o mais tímido esboço de um sistema de saúde ou de ensino universais, ou uma simples estratégia de distribuição de correio em todo o seu território. Um estado de um país estupidamente rico de recursos tornado refém de uma elite cujo transformismo cínico passou, em poucos anos e sem pruridos nem sobressaltos de alma, de um marxismo esquemático à mais pertinaz e sôfrega apropriação primitiva de riqueza - sonegando-a a todo um povo que definha inerme na mais infame miséria e degradação.
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Claro que nada disto seria possível sem a caução internacional dos santos mercados e sobretudo sem a colaboração interessada da elite portuguesa dos negócios, cuja corrupção moral e cupidez sem escrúpulos a leva, aceitando proveitosos dividendos e comissões, a acolher no seu seio os investimentos de figurinhas mais ou menos obscenas ou sinistras como Isabel dos Santos, Álvaro Sobrinho, seus consortes e generais.

Neste contexto, o silêncio de certos artistas não é tão estranho como isso. Colaboracionista ou apenas pusilânime, trata-se afinal da posição natural dos que também prosperam - como jacarés na água turva deste rio podre de escravatura. 

É contra o sórdido festim de fusões, aquisições, kuduro, fadinho e concursos de misses e contra o glamour de celofane desta nova high-society luso-tropical que se insurge a gesta patética e desesperada de Luaty e dos seus companheiros. E esta pequena obra, improvisada, que lhes dedico. 
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