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Nuno de Albuquerque de Morais Sarmento é um
político português. Vice-presidente do PSD. Já foi a ministro duas vezes.
Também é comentador político, na SIC Notícias, na RTP e na TSF. E advogado e
tudo. O Mogais Sagmento já era maizómenos conhecido do grande público,
mas só agora é que se tornou realmente popular. Desde que se viu o seu
nome escrito nos papéis de Pandora. Foi aí que ficámos a saber que o Mogais
Sagmento também é um investidor no estrangeiro.
Ele é um dos rostos mais emblemáticos da velha classe
dirigente lusitana, mais precisamente da sua ala mais ressessa,
reaccionária e ultramontana, aquela onde abundam os apelidos de consoantes
dobradas que são invariavelmente precedidos pela partícula “de”. Esta ala da
classe dirigente nacional é uma excrescência medieval que, apesar de todos os
avanços sociais, políticos e científicos do século vinte, do ensino obrigatório
ao direito ao voto e ao DDT, conseguiu sobreviver até aos nossos dias - como os
padres, as pulgas e os chatos. Trata-se de uma classe social favorecida pela
sorte nos negócios e nos acasalamentos (perpetua-se por endogamia) e por uma
sempiterna proximidade do poder. Também presume grande prurido pelos
pergaminhos de uma tão suposta como antepassada fidalguia. Esta curiosa e um
tanto mórbida fixação pelo título de nobreza e por uma lânguida e
ressabiada nostalgia do privilégio, sublimadas mais recentemente por
igual fascinação pascácia pelo doutoramento no estrangeiro, faz
desta elite do atraso - cem anos após a implantação da República e
cinquenta depois do 25 d’Abril de 1974 - um caso patológico que seria
apenas risível se não fosse também bastante confrangedor.
Assim, embora tenha pinta de
meteco, ou talvez por isso, o seu verbete na wikipedia afiança que Mogais
Sagmento é o garboso “terceiro filho e terceiro varão de João Vilaça de
Morais Sarmento, pertencente à família Botelho de Morais Sarmento, dos
Guardas-Mores do Sal de Setúbal de juro e herdade, e dos Condes
de Armamar -. Licenciado em Engenharia Química (IST e Universidade de
Louvain, Bélgica) e Administrador de Empresas, e de sua primeira mulher Maria
Madalena de Miranda Ferrão de Albuquerque. É bisneto ainda pelo lado paterno,
do Par do Reino António Eduardo Vilaça, que foi Ministro dos Estrangeiros
várias vezes, dos Reis D. Carlos I e D. Manuel II”.
Mas não é só. Ou apenas. Há
mais: “Casou em Óbidos na Quinta das Gaeiras, a 9 de Julho de 1988
com Ana Filipa de Moser Lupi), 5.ª neta dum italiano, neta materna
duma judia sefardita, 5.ª neta do 1.º visconde do Cartaxo,
sobrinha-5.ª-neta do 1.º Conde da Póvoa e 1.º Barão de
Teixeira e bisneta do 2.º Conde
de Moser da qual se divorciou em
Fevereiro de 2016.”
Gostaram? Reparam nos “de”?
Mas muito para além deste arrazoado imbecil,
quase cómico de tão vácuo e tão tosco, o que me chamou a atenção foi a sua
actividade, digamos assim, causídica, que pode talvez explicar o seu
envolvimento no caso dos papeis da Pandora. Reparei que Mogais Sagmento é
atualmente sócio da PLMJ
- A. M. Pereira, Sáragga Leal, Oliveira Martins, Júdice & Associados, RL. Um consórcio de advogados.
Pois bem, segui o link e entrei num outro mundo. O mundo maravilhoso de uma sociedade Full-Service.
Esta preciosidade, que pode ser aferida
clicando em quem somos, revela o que pode ser realmente uma
sociedade de advogados para todo o serviço. Segurem-se e leiam. São
apenas dois parágrafos, mas valem por toda uma literatura.
“Somos uma sociedade de advogados com
sede em Portugal que combina a oferta de um escritório full-service com a
maestria e competência de uma relojoaria jurídica.
Possuímos um genuíno entusiasmo na
resolução de impossibilidades que nos leva a lugares “menos comuns” que
transformam velhas certezas em novas disrupções. Há mais de 50 anos que nos
pautamos por abordagens arrojadas e transformadoras que se traduzem em soluções
concretas que tanto respeitam as exigências da lei como promovem uma defesa
eficaz dos interesses dos nossos clientes.”
Gostaram? De antologia. Pois não só è
vero como è ben trovato.
Se bem entenderam, Mogais Sagmento é
sócio de Júdice, sobre quem também já me debrucei aqui. Júdice, ele próprio
também empresário, é um advogado com uma visão próxima do cliente; foi
aliás certamente o seu genuíno entusiasmo na resolução de
impossibilidades e a sua proximidade quase
promiscua ao banqueiro Rendeiro que levaram recentemente este último a
lugares menos comuns que transformam velhas certezas em novas disrupções.
Toparam?
Não admira por isso que também Mogais
Sagmento, como empresário e investidor no estrangeiro (Ilhas Virgens,
Moçambique e tal), tenha afinal uma visão tão próxima do advogado.
É que o que melhor define o Mogais Sagmento e a sua classe - mais do que aquela ressessa presunção de antiga fidalguia; mais do que a sonsa nostalgia da legitimidade do privilégio e muito mais do que aquele, mais recente, fascínio laparoto pelo doutoramento no estrangeiro – é, sem dúvida, a avidez irreprimível. A atracção sórdida pelo dinheiro. E a compulsão para o full-service.
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3 comentários:
De modo muito triste, importa lembrar Morais Sarmento, o ministro que esteve na origem do fim do magazine cultural diário ‘Acontece’, transmitido na RTP 2 entre 1994 e 2003, ao afirmar, tolamente: "que saía mais barato pagar uma viagem à volta do Mundo a cada telespectador do programa do que o manter".!!?
La cosa nostra em todo o seu esplendor com metástases em todos os governos; tudo isto se torna banal e o Zé levanta-se às duas da manhã para conseguir uma consulta na rua.
La cosa nostra legal e refinada! já muitas vezes me questionei. Se não sabem do Rendeiro porque não perguntam ao Júdice, ele que faz comentário na "Chique" do Balsemão, todo deitado na cadeira porque a pança já não o deixa ficar decente e direito e parece que está em casa, ele que aparece sempre atrás de Rendeiro à saída do tribunal.
Enfim o nosso direito por linhas tortas.
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