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quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Os nus e os mortos

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Sobre as tragédias recorrentes que têm vindo à rede na foz do rio Mondego desde a construção do desinfeliz molhe-norte pouco há já a dizer, salvo reiterar a estupidez explícita da ingenharia portuguesa e a arrogância ignorante e criminosa dos decisores das obras públicas neste país triste e imbecilizado pela obediência e pela resignação.
A navegação na barra tornou-se um perigo eminente para barcos de pequeno calado e um cemitério para homens bons que ganham a vida honestamente.
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Sobre o imbecil porta-voz da capitania e da sua inenarrável narrativa da operação de salvamento, assim como sobre o capitão do porto, ausente em parte incerta, também pouco há a dizer - a não ser reiterar o que referi aqui sobre a marinha portuguesa, essa inefável organização cuja cadeia de comando parece ter sido arregimentada entre senhoritos de Cascais.
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O desprezo desta classe dirigente institicional por quem ganha a vida dura honestamente é tão patente como o seu desvelo solícito pela acumulação de riqueza por uma casta cada vez mais selecta. Num país normal o voluntarismo criminoso dos que assinaram e autorizaram a obra do prolongamento do molhe-norte teria consequências penais. A incompetência dos responsáveis pela logística e operacionalidade das operações de salvamento também.
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Em França, um meeting de trabalhadores da Air France foi  recentemente notícia em alguns jornais. Segundo a Euronews, talvez por criatividade da tradução, os trabalhadores teriam mesmo “violentado” o director de recursos humanos que lhes teria comunicado o despedimento de cerca de três mil colegas. A verdade verdadinha é que ninguém lhe foi ao cu – limitaram-se a chegar-lhe (um pouco) a roupa ao pêlo.

Imagino se, em lugar de se contentarem com vigílias silenciosas e bandeirolas a meia-haste, os inermes utilizadores da barra da Figueira da Foz tivessem atitudes assim assertivas.

Talvez, que sei eu, os senhoritos da capitania, da marinha portuguesa e do Porto da Figueira da Foz saíssem finalmente das suas zonas de conforto - e começassem a ver também o mar mais alto do que a terra
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