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O humorista (editor, escritor, pintor, desenhador) José Vilhena teve
uma vida boa. Passou-a quase toda divertindo-se como um perdido a mofar honestamente dos hipócritas, dos cínicos,
dos imbecis, dos punheteiros, das putas em geral e dos seus inúmeros filhos padres,
comendadores, doutores, corruptos, moralistas, pedófilos, bancarroteiros insignes
e até do povo. Esteve preso várias vezes durante a ditadura e foi levado à
ruína em tempos democráticos por abuso de
liberdade de expressão. Mas nunca esmoreceu, perseverou - até que foi apanhado plo alzaimér, essoutro
filhodaputa. Passou os seus últimos anos numa casa de repouso.
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Mas a diversão acabou mal (acaba sempre). Morreu, que se
fodeu; num hospital qualquer em Lisboa. Foi no dia da reflexão, vejam bem.
Velaram-no durante todo o dia seguinte, o da votação, numa igreja não-sei-quantas, também em Lisboa (não há nada que não façam a um desgraçado depois de morto) e por
fim chegaram-lhe o fogo (foi cremado). No dia da república, que já não é feriado.
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Entretanto o povo, na sua infinita sabedoria, ganhou de uma só vez um
novo governo de direita e, dizem os jornais de
referência, uma maioria de esquerda, vejam bem (a estes ninguém os leva presos
ou à ruína por abuso de liberdade de
expressão).
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Enfim, a velha comédia
humana continua.
Todavia quanto a mim não sei que fazer, ou dizer. A não
ser continuar a viver. A tentar divertir-me com esta merda toda. A dizer mal de
tudo, até do povo. Como o Zé Vilhena.
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