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sexta-feira, 30 de março de 2012

A ética dos pequenitos é uma industria de entretenimento


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A política “é o departamento de entretenimento da indústria”, dizia o grande Frank Zappa, nos anos setenta do século 20.
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Desde então, quase tudo mudou. A música, por exemplo, já não é a mesma coisa. Sobretudo sem Frank Zappa. Já a política, continua a ser um espectáculo, embora tenha mudado de departamento; agora está sob a tutela da Finança. Da alta.
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Apesar disso, hoje em dia, o entretenimento é uma indústria e está mais competitiva do que nunca. A alta-Finança, no afã de captar e fidelizar as atenções de um público cada vez mais ávido de curiosidades, não hesita em recorrer à estratégia dos circos ambulantes do século dezanove ou seja, a aberração como atracção; vocês sabem: a mulher barbada, o rapaz-elefante, o homem-polvo, etc., etc. Mas não é de admirar; a alta-finança recorre cada vez mais a soluções do século dezanove.
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-A SIC-Notícias, a revista Invest e, claro, o Casino-Figueira criaram agora um novo freak-show dentro deste género que consiste em fomentar uma espécie de diálogo entre duas personalidades oriundas de meios diferentes, a que chamaram, muito justamente, Conversas improváveis. É um espectáculo.
A primeira foi uma amena cavaqueira entre José Cid e Manuel Alegre; um poeta e um entertainer profissional (um político). Diz quem viu que foi di-vi-nal.
A segunda foi uma conversa, também amena, entre dois cómicos, Ricardo Araújo Pereira e Marcelo Rebelo de Sousa.
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Mas a terceira, que será emitida a 31 de Março, é que deve ser de estalo. Depois da fase experimental, com anões, passaram decididamente aos pesos-pesados, os gigantes -convidaram Rui Santos, o paladino da honestidade no futebol profissional e Luís Marques Mendes, o paladino da ética na política.
Marques Mendes é, hoje em dia, um dos rostos da classe dirigente. Mas “ganhou estatura política” como ajudante-de-Cavaco Silva (aos 28 anos, como Secretário de Estado da Comunicação Social (85/87), iniciou o processo de privatização da imprensa e apresentou a primeira proposta de lei de abertura da televisão à iniciativa privada) e a partir daí foi sempre a subir. Além de haver pertencido ao núcleo duro do gang, perdão, da entourage de Cavaco (Duarte Lima, Oliveira e Costa, Dias Loureiro), Marques Mendes dedicou-se a outras causas edificantes, como por exemplo o reforço da ética na vida política. Foi presidente do PSD e agora é administrador-executivo de uma empresa não sei de quê. E escreve livros em que “desenha novos caminhos que poderão devolver a Portugal a força e o protagonismo que merece. Enfim, é um sábio; um senador.
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Sobre Rui Santos já me debrucei aqui. Também é um gigante.

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Contudo, o resultado da conversa entre ambos não deve ser muito improvável( o sucesso do modelo não tem tanto que ver com o improvável do discurso mas de quem o profere). Como são ambos de pequena estatura e o mainstream não tolera altercações, discordâncias insanáveis ou debates acalorados, presumo que a coisa deve ter arredondado na habitual amena cavaqueira sobre, naturalmente, a necessidade de um reforço da ética entre os pequenitos.
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