Já aqui revelei o meu desgosto (e igual pessimismo) pela manifesta irrelevância da arte actual, reduzida à mais insignificante das variedades da cultura do espectáculo.
Lamentavelmente a arte só é notícia de jornal a propósito de desvarios milionários em leilões de caridade ou então pelas excentricidades destrambelhadas de algum dos seus agentes mais mediáticos.
Contudo o fenómeno, felizmente, não é geral. Longe dos meios de comunicação (e entretenimento) de massas, há ainda intelectuais atentos à pertinência sociológica e cultural da arte. José Medeiros Ferreira, no seu blogue, chamou a atenção para um curioso quadro exposto numa mostra que marcou o início das celebrações do centenário da República, na Cadeia da Relação, no Porto.
Numa altura em que os portugueses vivem enxofrados por verem a sua pátria abusivamente comparada com a Grécia é, ironicamente, um artista português de origem grega que faz um quadro que é um aviso. Níkias Skapinakis compôs uma paisagem com as cores da bandeira nacional na qual Medeiros Ferreira, mais do que avisos, vê presságios. E contudo, o recurso não é particularmente inovador; outros artistas se socorreram já das cores dos seus pavilhões nacionais para composições mais ou menos analíticas, como o norte-americano Jasper Johns, o angolano Fernando Alvim ou estes senhores que, em plena França ocupada por uns tipos apostados em perseguir a arte degenerada, faziam voluptuosas composições abstractas com uma paleta reduzida exclusivamente às suas três cores nacionais (bleu, blanc, rouge).
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Lamentavelmente a arte só é notícia de jornal a propósito de desvarios milionários em leilões de caridade ou então pelas excentricidades destrambelhadas de algum dos seus agentes mais mediáticos.
Contudo o fenómeno, felizmente, não é geral. Longe dos meios de comunicação (e entretenimento) de massas, há ainda intelectuais atentos à pertinência sociológica e cultural da arte. José Medeiros Ferreira, no seu blogue, chamou a atenção para um curioso quadro exposto numa mostra que marcou o início das celebrações do centenário da República, na Cadeia da Relação, no Porto.
Numa altura em que os portugueses vivem enxofrados por verem a sua pátria abusivamente comparada com a Grécia é, ironicamente, um artista português de origem grega que faz um quadro que é um aviso. Níkias Skapinakis compôs uma paisagem com as cores da bandeira nacional na qual Medeiros Ferreira, mais do que avisos, vê presságios. E contudo, o recurso não é particularmente inovador; outros artistas se socorreram já das cores dos seus pavilhões nacionais para composições mais ou menos analíticas, como o norte-americano Jasper Johns, o angolano Fernando Alvim ou estes senhores que, em plena França ocupada por uns tipos apostados em perseguir a arte degenerada, faziam voluptuosas composições abstractas com uma paleta reduzida exclusivamente às suas três cores nacionais (bleu, blanc, rouge).
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Se a paisagem de Skapinakis é um aviso contra uma abjecção que se pode tornar dissoluta - esta abjecta “peça jornalística” na qual, desta vez não a arte, mas os artistas, são notícia - é um vómito (os vómitos são, como se sabe, avisos premonitórios, muito mais do que os simples presságios. E são invariavelmente repugnantes). Neste, assinado por um tal de Jot’Alves, ou lá o que é, ficamos a saber pela boca do presidente da Câmara que, para ajudar artistas em dificuldades poderá “dar-se-lhes apoio - de forma discreta para proteger a sua dignidade artística e pessoal”; mas a melhor maneira mesmo de o conseguir, é informar disso um escribazinho cínico e acanalhado que nunca permite que a verdade lhe estrague uma notícia, um “jornalista” useiro e vezeiro em transformar factos laterais ao reportado em manchetes ribombantes.
A folha de couve onde regurgita as suas abjecções não se importa de sacrificar a dignidade vulnerável das pessoas no altar de um estilo sórdido. O tablóide integra o maior grupo económico do centro do país e é “a 5ª melhor empresa para trabalhar em Portugal, pelo segundo ano consecutivo”(!!).
A folha de couve onde regurgita as suas abjecções não se importa de sacrificar a dignidade vulnerável das pessoas no altar de um estilo sórdido. O tablóide integra o maior grupo económico do centro do país e é “a 5ª melhor empresa para trabalhar em Portugal, pelo segundo ano consecutivo”(!!).
.Percebeis agora o alcance do aviso de Skapinakis e dos maus presságios de Medeiros Ferreira?
A nuvem adensa-se. Apresta-se a cobrir toda a superfície da paisagem.
Presumo que seja isso que configura um quadro negro.
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Ao alto, o conhecido e muito glosado “connoiseur,” de Norman Rockwell, com "paisagem", de Níkias Skapinakis
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Ao alto, o conhecido e muito glosado “connoiseur,” de Norman Rockwell, com "paisagem", de Níkias Skapinakis
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