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segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O nu e a máscara, 2006

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(acrílico s/tela, 80x100)

“a pintura é a arte de escavar superfícies”
Paul Claudel
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Nesta pintura, de 2006, embora ao nu e à máscara esteja atribuído todo o protagonismo do primeiro plano, é mesmo do fundo que vem (talvez) a revelação.
Do fundo, de muito para lá de uma superfície escavada de acordes de vermelhos intensos, laranjas, terras, rosas e ouro – há, num outro fundo, azul e negro, outro personagem, que parece observar.
O recorte, a contra-luz, da figura do artista que à porta observa a obra, será apenas um fundo literal, ou – como num jogo de espelhos, apenas uma imagem reflectida do pintor ou do espectador (vouyeur) que, assim, num ilusionismo perverso e manipulador é absorvido pela pintura? – verdade seja dita que, se um nu revela, uma máscara oculta ou, pelo menos, disfarça; dissimula.
Confesso que esta perversidade algo intelectual da “arte pela arte” já a perpetrei aqui, e aqui, e em outras ocasiões que vos mostrarei.
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Reconheço que o meu fascínio pelos enigmáticos, ocultos ou dúbios sentidos da imagem é uma questão de temperamento e também da minha devoção por artistas como Velásquez, ou de Chirico ou Picasso, cujas obras são exemplos manifestos contra a banalidade de todos os sentidos óbvios e literais.

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