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segunda-feira, 4 de junho de 2007

interior com mulata e poltrona vermelha, 2001

(acrílico s/tela 50x70)
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Existe nesta pintura um grau de crueldade que deriva, em certa medida, das Meninas de Avinhão.
Este é um quadro de bordel, como o de Picasso e muitos de Toulouse-Lautrec.
Só que, ao contrário do baixinho, eu, à imagem do jovem Picasso, não possuo a sua predestinação suicidária nem amo as putas mais do que a mim mesmo.
Picasso porque produziu a sua obra-prima assombrado pela perda, na angústia da pandemia do seu tempo, a sífilis.
Eu, ai de mim, porque quis, através dum registo quase caricatural e do recurso a uma paleta de contrastes no limite do expressionismo, exprimir outra espécie de pavor, de outra espécie de pandemia, que nos assombra a todos e se dissimula nas ilusões do “amor” mercenário.
Deste conjugar a caricatura com uma paleta expressionista resulta esta crueldade implícita e inquietante. O pungente disto sobressai da fractura entre a compaixão devida e uma inconfessável mas notória repulsa.
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