Dito e feito (eu só não
acerto no euromilhões). Hoje, o triunfo do sebastianismo de praia
é uma realidade consumada na Figueira e, com o regresso em ombros do desejado,
o santo nome da Figueira está de novo onde os figueirinhas tanto
gostam que esteja: na imprensa cor-de-rosa, na marron, na rubrica
de faits-divers dos telejornais e nas expressões dos humoristas.
Na Figueira ninguém se questiona sobre o estranho fenómeno que leva gente aparentemente sensata e habitualmente circunspecta a uma euforia ensandecida pela idolatria (presumo que para os groupies figueirinhas se trate de uma simples questão de fé, ou seja, de algo que dispensa por completo o entendimento). Não obstante, esta espécie de messianismo patusco, o santanismo, é um fenómeno tipicamente figueirense - ou seja, algo circunscrito ao seu território; uma especificidade regional. Na verdade, trata-se de um estado-de-espírito latente na cultura popular local e agora a reviver mais uma das suas múltiplas reencarnações.
Para compreender o santanismo é necessário conhecer as razões profundas de uma fé cega num caudilho com dois olhos, meia-idade e uma grande cabeça sem programa nem ideias que se vejam. Mas também é preciso conhecer o meio, a gente, o contexto, a história, a circunstância e a bizarria do único lugar de Portugal e talvez do mundo, onde é possível que, num espaço de vinte anos, caia duas vezes o mesmo raio. É indispensável conhecer a Figueira.
O “Discurso sobre a Figueira”, que compus durante o confinamento, é, penso, obra para satisfazer essa curiosidade. A primeira edição esgotou-se logo em Fevereiro entre os leitores deste humilde blogue. Permiti-me, em Julho, pagar a impressão de uma segunda, destinada à venda em banca na Figueira da Foz, que se revelou, como certamente logo calcularam (eu também) o mais pré-anunciado fiasco da história da auto-edição. De maneiras que tenho em armazém quase cinquenta exemplares de uma obra única, essencial, para quem quer saber mais, saber tudo sobre a Figueira e sobre todos os seus fenómenos e epifenómenos, e assim.
Trata-se de um
Divertimento em forma de panfleto sarcástico
composto em
prosa jocosa e escarninha
alguns apartes entre
parênteses
e vários
movimentos
sumptuosamente
ilustrados
com preciosas
metáforas
e impresso em
resma de eucalipto
sem notas de rodapé
por um tal
Fernando Campos de Maiorca
nesta cidade
No ano
desgraçado de MMXX
Figueira da Foz
e é afinal de
uma obra rara, única no seu género; um estudo exaustivo do meio, do ambiente e
do factor humano figueirenses. Tem tudo para se tornar um Clássico
(como aliás explico no preâmbulo), com perspectiva histórica, análise microscópica de
contexto, visão distanciada e tal. Uma verdadeira monografia, pouco académica é
certo, mas muito séria (no sentido da honestidade) e nada complacente.
1 comentário:
Não se compreenderá o 'santanismo' se não se ler este livro.
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