Quando a humanidade, subjugada pelo temor da delinquência,
se tornar louca
por efeito do medo e do horror,
e quando o caos se converter em lei suprema,
então terá chegado o tempo para o Império do Crime.
Fritz Lang, in O Testamento
do Dr. Mabuse
.
“Adoraria ter feito filmes em 1920, ter vinte anos nessa
altura. Ter tirado partido da época dos pioneiros. Quando comecei, o cinema era
já coisa arqueológica, já tinha uma história, já havia escolas de cinema e já
se tinha estabelecido há muito o processo de o intelectualizar. Nos seus
primeiros tempos o cinema pertencia à feira e eu ainda o sinto um pouco assim.”
– escreveu Fellini no seu “Fellini conta Fellini".
.
Fritz Lang foi um desses pioneiros. Foi ele um dos que tirou o cinema da feira para o tornar no que, como ele próprio referiu - poderia ter
sido uma arte, estabelecendo os cânones intelectuais do que viria a ser uma
nova linguagem de causar sensações. Sem ele não teria havido Alfred Hitchcock,
nem Luís Buñuel.
Foi a ver os filmes de Lang que ambos descobriram as suas
vocações. Buñuel escreveu mesmo, em “O meu último suspiro”: “Foi ao ver As
três luzes que senti, sem sombra de dúvida, que queria fazer cinema. Não
eram as três histórias propriamente ditas que me interessavam, mas sim o
episódio central, a chegada daquele homem de chapéu negro – apercebi-me logo de
que se tratava da morte – a uma vila flamenga, e a cena do cemitério. Houve
algo neste filme que me tocou profundamente, iluminando a minha vida,
sentimento esse que foi confirmado ao ver outros filmes de Fritz Lang, como,
por exemplo, Os Nibelungos e Metrópolis.”
.
Não é pouco, convenhamos. Por isso vale a pena rever, se se
puder, todos os filmes de Lang. Nestes lúgubres e novos tempos de crescente fanatismo
e indiferente estupidez, há algo de novo, de iniciático, em rever alguém
fazendo as coisas pela primeira vez. Ilumina uma vida.
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