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domingo, 17 de novembro de 2013

O esquerdismo fôfinho, ou centrista

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Rui Tavares acha que em portugal existe uma maioria sociológica de esquerda. Nem mais.
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Deve ser por isso que o país tem uma maioria, um governo  e um presidente de direita. 
Deve ser também por isso que o próprio Rui Tavares teme, muito justificadamente aliás, que na próxima legislatura o PS (tiens, essoutro grande e fôfo partido de esquerda) mailo PSD cozinhem, como de  costume, mais uma revisão da Constituição. 
Este arguto observador concluiu que, para cristalizar esse frémito cívico maioritário de esquerda, nada melhor do que criar um novo partido. Para juntar aos outros e parecermos muitos, digo eu.
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Rui Tavares é um independente de esquerda que foi eleito pelo Bloco de Esquerda para o parlamento europeu e depois desarriscou-se. Deixou-se ficar por lá (entre Bruxelas e Estrasburgo), penso que a representar-se a si próprio. Gostou tantotanto mas tanto que agora quer fazer um partido só para ele, à sua imagem. Uma coisa cheia de bons e generosos sentimentos, assim a modos que independente; e livre; e ecologista; e europeu, claro. Ah, e  desquerda também, como é óbvio, pois pretende ocupar precisamente o centro nevrálgico da dita cuja.
Então é assim: o empreendedorismo escuteiro deste filósofo do livre-pensamento e da independência dos partidos propõe-se isso mesmo, criar um partido - para regenerar a vida, o país, o sistema político quiçá o mundo e até os outros partidos.
O novel partido regenerador chama-se então, segurem-se, LIVRE. E tem como símbolo uma papoila. A sério.
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Os eleitores do Manel Alegre e do Fernando Nobre, que têm vivido na apagada e vil tristeza de um orfanato desassossegado, estão que nem podem – a rebentar, sei lá, de contentamento ou assim. Já sabem em quem é que vão votar.
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A direita também suspira, deleitada. Henrique Monteiro, por exemplo, o atrasado mental que escreve umas merdas no Expresso do doutor Balsemão (ele diz que se lhe pode chamar o que se quiser) está deliciado. Até já lhe desejou (ao Tavares) imenso sucesso.
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Os media do regime (os do dr. Balsemão, o do engenheiro Azevedo e os da princesa da Matamba) andam numa fona atrás do rapaz. Acham-no fofinho, encantador. Estes media adoram aliás o empreendedorismo, mesmo em forma de partidos desquerda, desde que seja da fôfa. Acham que quantos mais melhor. Hão-de levá-lo ao colo até pelo menos à eleição de Tavares. E de mais uns quantos. Avança, Tavares amigo; a força está contigo - dizem eles.
Depois, bem, depois da revisão em baixa da Constituição alguma coisa se há-de arranjar. Há-de naturalmente aparecer outro ainda mais fofinho, ainda mais empreendedor e mais centrista
E assim sucessivamente.
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4 comentários:

cid simoes disse...

Texto e desenho magníficos. Vim aqui buscar a minha gargalhada matinal. Obrigado!

Luis Filipe Gomes disse...

Já tínhamos a rosa agora temos a papoula. eu gosto tanto da papoulas!...
assim como o Cesário Verde...
mas talvez seja uma cor um bocadinho retinta era melhor um miosótis porque aqui não há gato há rato, ou então um crisântemo amarelinho como o sol que há-de brilhar para ele LIVRE, LIVRE, LIVRE e que Deus nos... Proteja.

Sérgio Ribeiro disse...

As "papoilas saltitantes" cantadas pelo Luís Piçarra no hino do (ou ao) Benfica.
Excelentes desenho e texto, de "sarcasmo inteligente" como fui alertado.

Obrigado aos dois

Guilherme da Fonseca-Statter disse...

BRILHANTE!!!
E, já agora, hilariante...