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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A graça moira



Este abantesma - sobre o qual já me debrucei aqui - deu de novo um ar da sua graça. Esta contradição viva (ele é um intelectual-cavaquista, vejam bem) a quem o governo ofereceu agora um feudosinho à medida, acaba de privatizar a língua portuguesa; o ex-comissário de quase-tudo travestiu-se numa espécie de Maria da Fonte das consoantes mudas comovendo assim, com este sobressaltozinho cívico de opereta, uma vasta colecção de idiotas que escrevem nos jornais e transformou o debate entre os prós e os contras acordo ortográfico numa inaudita e imbecil guerra entre esquerda e direita.
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A verdade é que o acordo ortográfico nem sequer é uma questão política - é um aborto sem pés nem cabeça. Mas para que se veja a que ponto chegou a idiotia nesta choldra, uma das suas maiores faculdades de Letras, a de Lisboa, ainda não tem opinião oficial sobre o assunto.
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Contudo, no que me diz respeito, continuarei a escrever como até aqui. Quanto a ler, cheguei a uma idade em que quase só releio (para tal basta-me, ai de mim, metade do que foi editado até hoje) e deixei de comprar jornais (o que neles me dificulta a leitura não é a ortografia, é a estupidez e a desonestidade). Além disso, confesso que, apesar da “umidade” e da “anistia”, leio sem maiores dificuldades qualquer texto brasileiro.

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Enfim, reconheço que me preocupam bem mais outros acordos. Mas também reconheço que a claudicação neste, como no laboral e no da troyka, por exemplo, indicia que a tendência dos portugueses para se inclinarem, resignados ou abúlicos, perante os diktats do dinheiro, chama-se declínio - como referiu esta semana um tal de Shultz, para grande escândalo das alminhas patrióticas.
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1 comentário:

Elísio Alfredo disse...

Bem, dito. Subscrevo de alto a baixo.