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Fernando Lanhas foi hoje a
enterrar.
Tinha oitenta e oito anos.
As luminárias que escrevem
os obituários dos jornais arrumaram a coisa com: “morreu o “precursor da
pintura abstracta”. Os ignorantes mais “especializados” chamam-lhe mesmo “o
pioneiro da introdução do chamado abstraccionismo geométrico em Portugal”(?!).
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Mas ninguém é só isso. As pessoas que o
conheceram, ou a um cagagésimo da sua obra, sabem que ele foi muito mais do que
isso. Para Júlio Pomar, por exemplo, um rapaz do seu tempo, Fernando Lanhas "ocupa um lugar fundamental (no
cenário artístico português do século XX). É dos poucos artistas
verdadeiramente originais", acentua. "Extremamente discreto no seu trabalho" e sem "nunca se
ter batido pelo reconhecimento público", Fernando Lanhas destacava-se "pelo muito que sempre investiu na
mínima coisa que fazia", pela "intransigência" e "pela
exigência". Esse é, para Júlio Pomar, um ponto fulcral na sua obra: "A exigência na procura do essencial"
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Já para mim, que conheço
muito mal o resto da sua obra material
multifacetada (de
arquitecto, poeta, astrónomo, arqueólogo, paleontólogo), Fernando Lanhas era sobretudo
um extraordinário desenhador. O seu traço fino e incisivo transformava o mais despretensioso
desenho num exercício luminoso de lucidez e emoção inteligente e verdadeira.
Quando eu for grande,
quero desenhar como Fernando Lanhas.
Quero lá saber do que os
ignorantes escrevem nos jornais.
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1 comentário:
Só se engrandecem os que aplaudem o valor alheio.
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