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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Fernando Lanhas, “a exigência na procura do essencial”


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Fernando Lanhas foi hoje a enterrar.
Tinha oitenta e oito anos.
As luminárias que escrevem os obituários dos jornais arrumaram a coisa com: “morreu o “precursor da pintura abstracta”. Os ignorantes mais “especializados” chamam-lhe mesmo “o pioneiro da introdução do chamado abstraccionismo geométrico em Portugal”(?!).
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Mas ninguém é só isso. As pessoas que o conheceram, ou a um cagagésimo da sua obra, sabem que ele foi muito mais do que isso. Para Júlio Pomar, por exemplo, um rapaz do seu tempo, Fernando Lanhas "ocupa um lugar fundamental (no cenário artístico português do século XX). É dos poucos artistas verdadeiramente originais", acentua. "Extremamente discreto no seu trabalho" e sem "nunca se ter batido pelo reconhecimento público", Fernando Lanhas destacava-se "pelo muito que sempre investiu na mínima coisa que fazia", pela "intransigência" e "pela exigência". Esse é, para Júlio Pomar, um ponto fulcral na sua obra: "A exigência na procura do essencial"
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Já para mim, que conheço muito mal o resto da sua obra material multifacetada (de arquitecto, poeta, astrónomo, arqueólogo, paleontólogo), Fernando Lanhas era sobretudo um extraordinário desenhador. O seu traço fino e incisivo transformava o mais despretensioso desenho num exercício luminoso de lucidez e emoção inteligente e verdadeira.
Quando eu for grande, quero desenhar como Fernando Lanhas.
Quero lá saber do que os ignorantes escrevem nos jornais.
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1 comentário:

cid simoes disse...

Só se engrandecem os que aplaudem o valor alheio.