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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Barreto e a universidade abécula




A cidade alentejana de Castelo de Vide transforma-se, em Agosto, numa verdadeira escola de Atenas. Trata-se da “universidade de Verão do PSD”.
Contudo, não é bem bem como a escola de Atenas da antiguidade; é mais como uma espécie de secundária da Atenas da actualidade; ou seja, não há abécula que para lá não vá leccionar nem grunho que de lá não venha carregado de cunhecimentos.
.Um destes notáveis mestres do cunhecimento é António Barreto, o sociólogo que foi ministro da Agricultura e que achava que o país não precisava de produzir o que consumia, que bastava importá-lo. E que por isso, restituiu as propriedades agrícolas aos seus “legítimos proprietários”, que delas fizeram belas segundas residências com piscina, campos de golfe, reservas de caça ou estâncias (agora diz-se resorts) de turismo rural. O bom homem pensava que o futuro seriam os “serviços”: aviar copos e fazer camas aos turistas seria o glorioso desígnio para um merecido desenvolvimento.
Abandonada a agricultura, o país alegremente abandonou também a indústria e as pescas, entrou de carrinho para o Mercado Comum Europeu e, logo a seguir, para a União Europeia.
Ou seja, depois de perder o império e descer ao inferno, em 1975, Portugal depressa descobriu uma nova terra de Preste João, onde a árvore das patacas está sempre em flor; o país não precisaria enfim de fazer nada; compraria tudo feito. A Europa que lhe vendia os produtos, emprestar-lhe-ia também o dinheiro para os pagar; enfim, o paraíso na terra.
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Barreto, o sociólogo, realizou mesmo um muito celebrado documentário para a televisão onde pintava um retrato dourado e amável do Portugal dos últimos trinta anos, por fim livre do atraso da ruralidade.
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Só que, entretanto, o país descobriu de repente que está endividado. Que não faz a ponta de um corno e consome mais do produz. E Barreto, eureka, descobriu a pólvora. E foi a correr anunciá-la ao Alentejo, à "lusapenas" do PSD: que a culpa não é toda da Constituição de 1976 (revista todos os três quinze dias desde então) mas que ela “é um horror”. É “barroca”, disse ele. E disse mais: que “urge fazer uma nova e aprová-la em referendo”. Mais ou menos como se elegeu o maior português de todos os tempos..

A coisa promete.
Como Barreto acha que a justiça no anterior regime até era melhor do que a actual, não me admira que proponha o regresso à Constituição de 1933. Toda a gente sabe que depois do barroco veio o classicismo. Seria um regresso, “rapidamente e em força” claro, aos clássicos.

Faz sentido. Como “maitre à penser” de abéculas, Barreto deve pensar, naturalmente, que o regresso ao passado é a única solução com futuro.
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2 comentários:

Alcidio Torres disse...

Muito bem observado.Esta "fealdade" que campeia elas praças da vaidade só tem superficialidade e com ela enagam muita gente, que vê nos seus escritos e análises profundidade científica. Quando não conseguem distinguir as consequências das causas e confundem improdutividade e desigualdade com crise da dívida está tudo dito.
AInda bem, que é um escritor sem ambiguidades.

cid simoes disse...

É a vacuidade engraxada que tresanda a Soares o "balofo".
Uma peça que brilha no acervo do FC.