A educação pela pedra
Uma educação pela pedra: por lições;
para aprender da pedra, frequentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura concreta;
a de economia, seu adensar-se compacta;
lições da pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.
Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse, não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra; lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.
João Cabral de Melo Neto é um poeta raro.
Construía os seus poemas com o rigor de uma equação matemática; metódica e sistematicamente, ele subtraía às parcelas a intuição, a inspiração, o lirismo, a subjectividade, o adorno, o sentimentalismo e muitas outras palermices mais ou menos bem aceites na poesia convencionada. Ficava só o cerne. O osso. O essencial.
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Uma educação pela pedra: por lições;
para aprender da pedra, frequentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura concreta;
a de economia, seu adensar-se compacta;
lições da pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.
Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse, não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra; lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.
João Cabral de Melo Neto é um poeta raro.
Construía os seus poemas com o rigor de uma equação matemática; metódica e sistematicamente, ele subtraía às parcelas a intuição, a inspiração, o lirismo, a subjectividade, o adorno, o sentimentalismo e muitas outras palermices mais ou menos bem aceites na poesia convencionada. Ficava só o cerne. O osso. O essencial.
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É mais ou menos isso que eu tento fazer com os meus desenhos: depurá-los de traços supérfluos. Só me dou por satisfeito quando um deles fica tão conciso e perfeito como o mais canhestro dos versos de João Cabral.
João Cabral de Melo Neto detestava a música. Para ele, toda a exigência era visual. Apesar disso, quando vejo - digo bem, vejo (o apelo visual é iniludível) - um poema de João Cabral, sou acometido por aquela espécie de deslumbramento que me acontece quando oiço Bach - tal como João Sebastião, a obra de João Cabral também foi “iluminada por aquela estranha geometria que desperta no espírito uma sensação de exactidão e de evidência absoluta".
E tudo isto em português. Com poetas como João Cabral de Melo Neto eu não preciso de aprender línguas para ter experiências exaltantes. É como ir para fora, só que por dentro.
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2 comentários:
Só um poeta desenha e escreve assim.
Ora essa, bondade sua, caro Cid.
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