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quarta-feira, 9 de março de 2011

O lobby gay e o "engraçadismo"

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Surrealismo foi um termo que o poeta Guillaume Apollinaire inventou para descrever a expressão do “não-sentido da vida” na obra do pintor Giorgio di Chirico. Este, no entanto, nunca se considerou surrealista.
René Magritte sim, era um pacato e surrealista pintor belga que usava chapéu de coco e gostava de paradoxos visuais.
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Magritte queria ser di Chirico quando fosse grande mas faltou-lhe o sentido trágico, o humor sardónico e a dimensão poética. Onde um perturba e inquieta, o outro apenas faz rir. Estão um para o outro mais ou menos como Richard Clayderman para Chopin.
Di Chirico, no entanto, acabou por deixar-se de metafísicas e deixou o campo aberto a Magritte que criou, com muito realismo e alguma cara-de-pau, uma série de imagens bizarras e sem muito sentido que lhe permitiram viver confortavelmente e que, hoje em dia, são o delírio de muitos publicitários cretinos e do seu “público alvo”.
O poeta Paul Claudel contudo, que era muito católico e um pouco reaccionário mas nada cretino, achava que o surrealismo fazia algum sentido sim, embora pederástico - os católicos, como se sabe e Graham Greene enunciou, são “cartesianos que acreditam em paradoxos”.
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A imagem acima é uma referência óbvia e um tanto infame (que fiz ontem à noite, com umas imagens do Google) ao muito citado “Ceci n’est pas une pipe”, de René Magritte. Esta obra, cuja transcendência me escapa, não faz nenhum sentido a não ser que se conheça a semântica da língua francesa. Trata-se de uma piadola algo grosseira com o duplo sentido da palavra “pipe” (cachimbo) na língua de Descartes e quer sobretudo dizer que nada é o que parece.
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Vem isto a propósito da influência do engraçadismo e do lobby gay na ascenção de novos talentos ao firmamento das artes e das letras nacionais. Nada é o que parece.
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É verdade que em Portugal é possível ganhar-se a vida, fazer carreira e até ter sucesso numa actividade para a qual não se tem o mais recôndito talento ou sequer vocação (o Tim, dos Xutos, é um caso gritante, aliás cantante, deste fenómeno, mas há muitos mais exemplos).
Não há nada como cair em graça. Aliás, como o diz o povo, “mais vale cair em graça do que ser engraçado”.
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É este o caso de Pedro Vieira. Não há blogue ou publicação literária onde não se vejam os seus rabiscos infatilóides e acachapados. O rapaz é um engraçadinho. Foi balconista de uma livraria mas diz-se livreiro (é como se um porteiro de um banco se dissesse banqueiro).Tem um blogue engraçadinho. E muitos talentos engraçadinhos. Julga-se dotado. O fedelho desenha, escreve, faz televisão, eu sei lá. Dá entrevistas engraçadinhas entre encómios e sorrisinhos cúmplices. Foi convidado por uma editora para ilustrar os Escritos Pornográficos, de Boris Vian e gostou imeenso. O crítico literário Eduardo Pitta acha este seu desenho, que supostamente representa o pintor Malangatana, “magnífico”. Escreveu um primeiro romance que logo encontrou editor e críticas elogiosas (eu conheço alguns verdadeiros escritores, com verdadeiro talento e algo para dizer, que nunca encontraram editor, nem crítica encomiástica, nem promoção organizada). Eduardo Pitta, crítico literário e especialista em "hermenêutica gay", fala de Almada Negreiros a seu propósito e afiança que o rapaz introduziu o subúrbio e o triângulo amoroso hetero-pederástico na literatura portuguesa. Nem mais. Ainda por cima o rapaz é um precursor.
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Foi aqui que me lembrei de Paul Claudel. O engraçadismo só, não chega. Não explica o sucesso e a unanimidade de certos fenómenos. Se isto faz algum sentido, só pode ser mesmo o pederástico. É aqui, julgo eu, que entra o lobby gay.


A quem possa interessar
-este postal não é contra os pintores belgas (alguns dos meus pintores preferidos são belgas; James Ensor ou Félicien Rops, por exemplo).
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-Também não é anti-católico. Alguns dos meus escritores preferidos são católicos, como José Régio ou Graham Greene, por exemplo. Eu próprio fui católico, mas "desarrisquei-me" antes da comunhão solene, embora continue a acreditar em alguns paradoxos.
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-Nem é anti-surrealista. Embora ache a pintura surrealista uma merda (aí concordo com Claudel, aquilo é tudo muito pela rama, imaturo e inconsequente) também acho que o surrealismo produziu alguns bons escritores, sobretudo poetas; e desconfio de Descartes, o que me aproxima de alguns surrealistas, como Luis Buñuel, por exemplo.
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-Ah, e também não é homofóbico. Algumas das minhas referências culturais são (ou foram) homossexuais). O lobby gay ainda não compreendeu, receio, que o que torna os artistas excepcionais não é o engraçadismo ou a preferência sexual; é o verdadeiro talento. Nalguns casos, génio. Como Oscar Wilde ou David Hockney, por exemplo.
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