O marketing natalício, talvez para desenjoar de nos impingir efeitos especiais a três dimensões e outras palermices óliudescas do costume, resolveu dar-nos uma prenda de natal. Uma a sério: o regresso de Jacques Tati. Em desenhos. Animados.
Ele haveria de gostar.
Eu sempre gostei de Jacques Tati.
Não é fácil. Primeiro estranha-se, depois entranha-se.
A obra de Jacques Tati é, à semelhança da do seu contemporâneo e compatriota Boris Vian, também uma imensa “complainte du progrés”. Só que, ao contrário do humor de Vian, virulento e rebarbativo (muito mais próximo do meu temperamento) o de Tati é suave e desconcertante; o seu personagem, Monsieur Hulot, passeia pelos filmes (que retratam o mundo do pós-guerrra, o fascínio pela tecnologia e a construção da sociedade de consumo tal como a conhecemos hoje) sem estados de alma, sem conflitos, numa eterna perplexidade.
Nos seus filmes, “comédias físicas sem enredo”, parecidos com as comédias dos anos 20, nunca acontece nada (nem sequestros, nem perseguições, nem explosões, nem salvamentos, nem sequer happy endings), talvez uma ou outra gargalhada com as incompreensíveis atitudes de monsieur Hulot, mas é tudo; e no entanto, as pessoas saíam do cinema com algo no olhar e um sorriso no canto dos lábios. Ainda hoje o seu humor tem uma frescura que falta a outros “cómicos”, quiçá com mais êxito no seu tempo, mas agora irremediavelmente datados.
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Eu sempre gostei de Jacques Tati.
Não é fácil. Primeiro estranha-se, depois entranha-se.
A obra de Jacques Tati é, à semelhança da do seu contemporâneo e compatriota Boris Vian, também uma imensa “complainte du progrés”. Só que, ao contrário do humor de Vian, virulento e rebarbativo (muito mais próximo do meu temperamento) o de Tati é suave e desconcertante; o seu personagem, Monsieur Hulot, passeia pelos filmes (que retratam o mundo do pós-guerrra, o fascínio pela tecnologia e a construção da sociedade de consumo tal como a conhecemos hoje) sem estados de alma, sem conflitos, numa eterna perplexidade.
Nos seus filmes, “comédias físicas sem enredo”, parecidos com as comédias dos anos 20, nunca acontece nada (nem sequestros, nem perseguições, nem explosões, nem salvamentos, nem sequer happy endings), talvez uma ou outra gargalhada com as incompreensíveis atitudes de monsieur Hulot, mas é tudo; e no entanto, as pessoas saíam do cinema com algo no olhar e um sorriso no canto dos lábios. Ainda hoje o seu humor tem uma frescura que falta a outros “cómicos”, quiçá com mais êxito no seu tempo, mas agora irremediavelmente datados.
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Uma característica do seu trabalho que talvez possa explicar isto é o modo como usa o som para dar ênfase ou contrariar as imagens que passam no ecrã, acrescentando mais um detalhe determinante para o encanto do filme e para a sua complexidade estrutural. O diálogo não é usado para dar informações ao público, mas antes como se fosse mais uma forma de ruído de fundo. É a curiosa relação entre este ruído de fundo, a música e a imagem que dá aos seus filmes o estranho mistério que apela àquela parte do cérebro das pessoas que se chama “inteligência” ou “sensibilidade”, e que talvez seja a poesia.
Bom natal.
Bom natal.
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1 comentário:
Aos poucos vou descobrindo o que me leva a visitar este blog. Tanto o Hulot como o Boris estão na prateleira de acesso fácil ao meu imaginário. Este é também um belo texto. Saúde da melhor.
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