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sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O “Pancada”


Afastado uns dias da blogosfera por causa de uma avaria informática, não deixo de estranhar a olímpica indiferença com que quase toda a blogosfera figueirense brindou este facto pitoresco mas não menos revelador.
O “caso” trouxe naturalmente para a ribalta (não necessariamente pelas melhores razões) aquele que é, (há quase quatro décadas) porventura um dos personagens mais influentes da vida política e social figueirense.
Dotado de uma inteligência viva, uma cultura enciclopédica e uma memória de paquiderme, Joaquim de Sousa, o “Quim pancada”, é, senão o mais longevo, o mais controverso, ubíquo e sui generis dos políticos figueirinhas. A Figueira não seria o que é sem o seu precioso contributo.
A sua carreira política teve início ainda na oposição ao Estado-Novo. Depois fez-se socialista (tout d’abord “soarista”, depois “zenhista”). Depois disso, fez-se social-democrata (desormais no partido das facas longas, torna-se difícil seguir-lhe o sinuoso percurso de alianças e rupturas).
Mas entretanto foi professor (de ginástica e de matemática) e administrador (administrou hospitais e portos comerciais, associações desportivas, colectividades e até instituições de solidariedade social).
Apesar de uma carreira política construída às avessas, ou seja, "de cavalo para burro" - foi, por esta ordem: deputado; secretário de estado (da Juventude e Desportos do I Governo Constitucional); presidente da Câmara; vereador - há quem diga que agora, ainda que por interposta pessoa, quer ser presidente da Junta de S. Julião (as caixas de comentários dos blogues são um verdadeiro manancial de informação sociopolítica e sociológica) .
Ainda assim, este maquiavel de província revelou-se um político de estirpe paradoxalmente florentina: aprendeu à sua custa que o poder, o verdadeiro "Poder" está, não em cargos electivos mas em posições de influência.
Assim, o nosso homem recuperou para si, sozinho ou acompanhado de amigos selectos (uma selecção rigorosa de amizades convenientes é um dos ingredientes para o êxito de empreitadas deste género) o prestígio da mais antiga e selectiva das colectividades locais, a Assembleia Figueirense. Conquistou também para si o invejável cargo de provedor da agência de empregos que dá pelo pomposo (e piedoso) nome de Misericórdia-Obra da Figueira. Além disso é um ginasista dos quatro costados e dizem, dizem que é ele, de facto (que não de Jure) o presidente desta prestigiada agremiação desportiva. De qualquer uma destas três entidades, Joaquim de Sousa pode dizer o que Luís XIV, o rei-sol, dizia do estado francês: “c’est moi”.
Apesar dos anti-corpos que a simples menção do seu nome provoca (como se pode aferir pelos depoimentos intrépida e integralmente anónimos ao post de Rogério Neves acima citado e linkado) Joaquim de Sousa está para os figueirenses, mais ou menos, salvaguardando as devidas proporções, como Salazar para os portugueses: as pessoas olham para eles e revêem-se ao espelho; não gostam, é certo, da imagem que este lhes devolve, mas receio que isso seja toda uma outra questão. Uma questão de auto-estima.
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A caricatura não é inédita. É da época desta e também foi publicada no jornal “A Linha do Oeste”

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2 comentários:

CS disse...

Um mimo!

C.Freitas disse...

O que me faz rir é aquela do DR. Um bacharel travestido em Dr. O tempo - para quem é bacharel em hitórico-filosóficas - sabe o que isso representa, encarrega-se de pôr um fim a tudo. O que é pena. Devia ser antes. As contas com este Merceeiro -com memória de elefante, defeito e virtude vinda do bacharelato- nunca serão feitas em vida. Só depois de morto. Isso ele sabe. Da memória apenas um trabalho de recolha de Jornais, Panfletos e Revistas figueirenses, feito em conjunto com outro autor. Assunto que qualquer bacharel daquele tempo, com olho vivo, faria. Foi coisa que nunca lhe faltou. Misericórdia. Misericórdia.