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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

“invitation au voyage” ou a síndrome de Stendhal


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Os gauleses são doidos. Mas não são parvos.
Henri-Marie Beyle foi um escritor francês do século dezanove que, entre outras coisas, descobriu a Itália e escreveu um romance em dois meses, sempre com pouco êxito (segundo a wikipédia, só conseguiu a aprovação entusiasmada de Honoré de Balzac).
Beyle era um dândy inveterado; para além de estar sempre apaixonado por mulheres diferentes e de frequentar salões e teatros, escreveu um ensaio “Sobre o Amor” em que se destaca a sua "teoria da cristalização", segundo a qual “o espírito, adaptando a realidade a seus desejos, cobre de perfeições o objecto do desejo”.
Inventou a literatura de viagem numas crónicas que publicava na imprensa inglesa sob o pseudónimo de Stendhal (ainda hoje os ingleses pensam que foi um deles que criou este género literário).
Era também um Bonapartista convicto. Embarcou na cruzada napoleónica como ajudante do general Michaud. Foi numa dessas viagens organizadas que descobriu a Itália e se passou. Destrambelhou. É a sua descrição dessa experiência de deslumbramento que hoje se entende por “síndroma de Stendhal” e que supostamente achacava a turista russa que, visitando o Louvre, acometeu contra a Gioconda com uma caneca.
Foi pois graças ao gosto de Napoleão pela viagem (e pelo saque, já agora) que os franceses de hoje podem ter livre acesso a experiências sensoriais exaltantes (aceleração do rítmo cardíaco, vertigens, falta de ar e mesmo alucinações, decorrente do excesso de exposição do indivíduo a obras arte, sobretudo em espaços fechados). Isto tudo sem ir para fora.
Não é o nosso caso. Nós, se quisermos experimentar sensações desvairadas e sublimes, teremos ainda que recorrer à viagem. Ao Louvre, por exemplo.
Sim, porque se o quisermos experimentar por cá, será uma desilusão. Eu já o tentei, no showroom do tio Berardo. O único acesso que tive (também foi embaraçoso) foi um ataque de riso.
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