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quarta-feira, 9 de maio de 2007

O deus do silêncio (efígie)


(velha serra de cortar pedra, manípulo de torneira, ferrolho, anilhas)
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Este, ao qual chamei o deus do silêncio, é o meu preferido de entre todos os achados de 2005. Está na minha sala.

Em toda esta trabalheira, o que despoletou o acto criativo foram os objectos em si, a sua vida própria e as circunstâncias, conotações ou as ideias a eles associadas… Quando, numa velha oficina, recolhi aquela velha serra de cortar pedra, enferrujada, não sabia ainda o que dali ia sair. Mas o instinto dizia-me algo… sugeria-me a memória daquela velha máscara mortuária de Agamémnon, em ouro maciço, que todos conhecemos dos manuais de história…

Não sei por que curiosas sinestesias e por que misteriosos trâmites, um simples detrito nos devolve a infância e a fascinação inocente por imagens enigmáticas… que não entendemos de todo, mas que nos povoam a imaginação e que nos marcam para sempre, como um ferrete, dando razão a Picasso, ainda outra vez, quando dizia: “A arte não tem passado nem futuro. A arte grega ou egípcia não pertencem ao passado: estão mais vivas hoje do que nunca.”

E aqui está, já não em ouro maciço, como os fantasmas da antiga Grécia, mas em ferro, velho e indelével como a idade de Micenas, a prova provada que a imaginação nos reitera a vida que existe na arte do passado.
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