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O trabalho de um pintor não tem que ver com aquilo que ele vê, mas sim com aquilo que ele quer que vejam Degas
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Este quadro, podeis vê-lo simplesmente como uma mater dolorosa, ou uma Pietá (os bons quadros não carecem da explicação, aliás, os quadros bons, os que ficam, têm vida própria, sobrevivem sempre aos autores, quaisquer que sejam as explicações… e não sei se é o caso deste…) mas, e visto que este é um espaço de confidências, posso contar-vos as minhas circunstâncias.
Esta pintura, criada logo após os ecce homo é um pouco subsidiária do mesmo espírito. Existe no entanto, também nesta versão algo de metáfora, ou alegoria, se quiserem. Isto é, esta mulher não é uma mulher qualquer nem o menino um qualquer menino e muito menos os cães são cães literais.
Se, ao trabalhar os ecce homo, eu estava interessado sobretudo numa escala de proporções que os aproximasse duma estética Cokwe, aqui o que me motivou foi o fascínio por aquelas maternidades kongo em pedra calcária, as mintadi. Foi o espírito dessas esculturas que tutelou todo o meu trabalho nesta pintura. E também o desejo, sempre latente em mim, de tudo subverter. Daí alguns pormenores de perversa bizarria.
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