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terça-feira, 17 de maio de 2022

O ponta-de-lança Rogeiro

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Os tempos que vivemos são os do triunfo, em toda a linha, do jornalismo de merda. Todos os meios de comunicação se disputam, até à abjecção, por servir uma informação acanalhada, truncada, parcial, simplificada, peneirada, paternalista, adocicada e sentimental. Sem escrúpulos nem pudor. 

O objectivo, não confessado, mas professado, é rebaixá-la o mais possível ao nível mínimo de mediocridade que eles julgam palatável ao seu público alvo. Para tal, o complexo simplifica-se até ao esquemático; o óbvio discute-se até ao ridículo; estimula-se a irrelevância até ao absurdo e desdenha-se a notoriedade até à humilhação; o belo, avacalha-se; o decente, emporcalha-se; o digno torna-se equívoco; o justo torna-se suspeito; a ciência, descredibiliza-se; a arte, anedotiza-se; o gosto não se discute; tudo se imbeciliza integrado na mesma narrativa: a narrativa do “sempre foi assim e não pode ser de outra maneira” que, xaroposa e bafienta, apela ao tédio e ao torpor, ao velho conformismo do gado que vegeta.

Nuno Rogeiro é um dos reputados especialistas que, na SIC, mais compenetradamente se empenham nesta esmerada catequese. A SIC é, diga-se também, a estação que mais se esmera na contratação dos seus especialistas neste género jornalístico. Escolhe-os sempre plo pedigri académico, profissional e até pessoal (Rogeiro, por exemplo, para além de ter sido feito comendador da Ordem do Infante D. Henrique e de ter sido director-adjunto do semanário “O Diabo” até 1994, foi monitor de ciência política na hoje afamadíssima Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Nuno também é o filho varão de Clemente Rogeiro, que foi presidente da Emissora Nacional, Director-Geral de Informação e último ministro da Saúde do regime deposto em 1974).

Assim, Rogeiro, o Nuno, compõe com José Milhazes (sobre quem também já me debrucei aqui) um tandem, ou parelha, de verdadeiros pontas-de-lança do jornalismo-de-merda. Implacáveis e imarcescíveis (como o bode do Mário-Henrique Leiria).

Nas suas mãos, ou pelas suas palavras, a verdade, a decência, o pudor, o bom-senso, e sobretudo a inteligência do espectador, nunca ficam incólumes. Só quando o apresentador do noticiário dá por finalizado o serviço, ao cabo de intermináveis e penosos minutos repletos das mais nefandas sevícias, é que ambos largam o osso. Relutantes, mas indisfarçadamente orgulhosos.
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5 comentários:

cid simoes disse...

Um texto com a qualidade da excelente imagem.Não é fácil caracterizar um biltre.

Rogério G.V. Pereira disse...

Já tá no meu espaço...

ematejoca disse...

Fenomenal o desenho.
Sobre o texto, estou fora do assunto.

Luma Rosa disse...

Realmente!! Sinal dos tempos? A internet deixou boa parte dos jornalistas um tanto preguiçosos. Um tal de copia e cola, principalmente os portais que massificam a mente do eleitor. Vou ficar na cola do Rogeiro!! :)
Beijus,

X Dias Longo disse...

Meu caro Fernando não poderia ser melhor caracterizado este espécime do comentário.
Já alguém me perguntou uma vez "qual será a formação acadêmica deste Sr"
Está explicado
Um abraço