Todos os homens discorrem sobre o que sabem, ou
o que presumem. Giovanni Pico della Mirandola, por exemplo, discorreu sobre a Dignidade
do Homem. Descartes sobre o Método. Étienne de la Boétie sobre a Servidão
Voluntária. Jean-Jacques Rousseau, que presumia sobre uma data de assuntos,
discorreu sobre A origem e Fundamentos da Desigualdade entre os Homens,
mas também sobre As Ciências e as Artes.
Eu próprio, não desfazendo, também presumo a
respeito das mais diversas matérias. Tenho, contudo, vindo a debruçar-me
especificamente sobre apenas uma, que tão logo se transformou no meu objecto
preferencial de observação, curiosidade e contemplação. De maneiras que depois
de mui atento estudo e concomitante conhecimento acumulado, também me permiti
discorrer longamente a propósito, em obra escrita. Ou seja, como uma ostra no
fim do seu confinamento, também acabei por soltar a pérola que hoje,
finalmente, no último dia deste ano miserável, tenho a honra de vos apresentar,
em forma de Discurso público.
Este Discurso sobre a Figueira e por
extenso Execração dos Figueirinhas foi pacientemente composto nos
últimos trinta dias, ainda que sustentado em inúmeros apontamentos, reflexões e
considerações editadas neste mesmo blogue ao longo de vários anos. O
confinamento a que a pandemia a todos tem obrigado proporcionou-me o tempo de
os reunir, escolher, corrigir, acrescentar, burilar, ilustrar e colorir; mas
também me permitiu a reflexão e o distanciamento necessários para escolher a
forma e o tom que julguei apropriados para compor e dar um sentido mais
do que vagamente estruturado à sumula de tudo o que reuni sobre assunto tão
espinhoso, ainda que suculento.
Assim, este Discurso tomou a
forma de um panfleto sarcástico e o tom despretensioso de um Divertimento, essa composição
musical (para um número reduzido de instrumentos, de caráter ligeiro e tom
casual e alegre, que possui uma quantidade livre de movimentos, semelhante às
suítes sem, porém, seguir um padrão pré-determinado), tão em voga no século
XVIII.
Como tal, e como não morigera nem desmoraliza, todo o texto deste
panfleto, os seus vários àpartes e os diversos movimentos, incluídas as
suas sumptuosas ilustrações metafóricas, foram compostos e editados por mim no
espírito libertino e licencioso desse magnífico século iluminado pela fantasia
e pelo livre-pensamento. O texto, da primeira (que reproduzo acima) à última
das suas trinta páginas, foi composto e paginado com caracteres da família
Trajanus Roman, redesenhados em 1993 por Roger White.
Muito mais do que uma simples edição de autor, trata-se de um verdadeiro
livro d’artista com a edição limitad(íssima) de apenas 25 múltiplos,
exemplares únicos e irrepetíveis (não será feita outra edição) que serão todos
numerados e autenticados pela minha assinatura manuscrita.
Cada um destes múltiplos será um raro objecto de desejo, de puro
deleite, de selecta colecção, que sei eu, uma verdadeira música de câmara,
acessível apenas a espíritos sofisticados e exigentes como os privilegiados happy
few que visitam este blogue e que o desejem encomendar, pelo módico preço
que eu vier a fixar, mais custos de envio, através do endereço de e-mail
que está aqui na barra lateral.
Aqui chegados, os meus leitores mais dedicados já se devem ter
apercebido que estou metido num lindo molho de brócolos: acabei de escrever um
livro sobre uma terra que não interessa a ninguém, nem mesmo a si própria,
posto que não lê.
Vendo-me por isto mesmo contrito a recorrer à generosidade, ou à
curiosidade, dos meus leitores de todo o mundo (apesar do seu alcance residual, também tenho plena consciência de que este blogue é acedido desde os lugares
mais remotos e difíceis de pronunciar) posso desde já afiançar-lhes, sob palavra de
honra e para mal dos meus pecados, que este pequeno panfleto insignificante tem
tudo o que basta para se tornar um Clássico. Isto, claro, se ser um
Clássico for a capacidade de alcançar o Universal partindo do muito
particular, ou mesmo do insignificante. Foi o que fez Euclides da Cunha com um
arraial remoto nos sertões da Bahia, e Garcia Marquez com um lugar recôndito da sua
imaginação. Gogol fez isso com um simples nariz. E eu, deus me perdoe, acabo de
o fazer com a Figueira da Foz.
.
2 comentários:
ONDE E COMO POSSO ENCOMENDAR O LIVRO?
Onde é como se pode encomendar o livro?
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