Em 2010, a propósito da bárbara atrocidade que tinha
vitimado os plátanos do Largo da Feira Velha, em Maiorca (foto da esquerda), o
vereador do ambiente de então, o inefável António Tavares, soltou esta pérola que, na época, eu considerei de “suficiência, humor duvidoso, superioridade
presumida e, quiçá também, alguma estupidez
natural: "ainda são vícios do passado, difíceis de controlar,
porque estamos aqui há pouco tempo".
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Volvidos oito anos e, ano após ano, os plátanos do Largo da
Feira Velha têm resistido; reflorescendo estoicamente a cada inverno (e à sua
consuetudinária sessão de serração). Todavia, na ânsia agónica de sobreviver,
rebentam, furiosa e desesperadamente, todos os anos na Primavera, com uma nova
folhagem tão densa que acumula, de Verão, emaranhados de galhos cruzados em
copas cerradíssimas, propensas à proliferação de todo o tipo de insectos
perniciosos e de parasitas, e ao desenvolvimento de podridões e outras
patologias fito-sanitárias, até à decrepitude fatal.
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Hoje, Tavares já não é vereador, mas a espécie de
organização política que ele representava ainda é o poder local que decide este
género de atrocidades. Filipe Dias também já não preside à Junta. O novo
presidente, há apenas ano e meio, é da mesma cor de quem manda na câmara
municipal.
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Em todo o caso, e quanto a mim tanto um como o outro, já “estão aqui” há tempo de mais. Até porque,
entretanto, o Largo da Feira Velha foi de novo palco de mais uma das suas
alarves performances, a exemplo aliás
do recentemente perpetrado em Buarcos e, receio, do que se vai perpetrando por
todo o concelho (se existe algum
método, digamos assim, no processo mental
psicopata, é, como se sabe, o método serial,
o do trabalhinho em série ou seja, a produção
em massa; é isso, suponho, que lhes desperta - em alguma obscura, viciosa e
retorcida glândula cerebral - a tão almejada associação entre prazer e
poder).
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De maneiras que hoje deparei com o que a foto da direita
documenta. E dei comigo a pensar que podar sem saber é como “poder” sem “saber”: invariavelmente dá merda.
E é assim em tudo; não apenas na poda do arvoredo; manda-se porque se pode, sem perguntar a
quem sabe, e mainada. E obedece-se
sem pensar nem, muito menos, objectar; porque
sim, prontos.
Porque o que realmente informa, ou inspira, o exercício
deste poder não é uma razão (qualquer razão) baseada no estudo e no
conhecimento, mas sim a sua própria consciência de ter poder, razão última porque
a sua jactância apenas se completa - ou complementa - na reverência geral, no
medo ou na indiferença. E isto é mais verdade quando o poder é absoluto.
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Trata-se, receio, de um atavismo
consuetudinário; uma tradição, portanto
– mui vetusta e mui portugueza - com
certeza. E estamos nisto. Ano 2019. Século vinte e um. Depois de Cristo.
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