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quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

sem dar por ela – a arte de mandar sem saber

Em 2010, a propósito da bárbara atrocidade que tinha vitimado os plátanos do Largo da Feira Velha, em Maiorca (foto da esquerda), o vereador do ambiente de então, o inefável António Tavares, soltou esta pérola que, na época, eu considerei de “suficiência, humor duvidoso, superioridade presumida e, quiçá também, alguma estupidez natural"ainda são vícios do passado, difíceis de controlar, porque estamos aqui há pouco tempo".
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Volvidos oito anos e, ano após ano, os plátanos do Largo da Feira Velha têm resistido; reflorescendo estoicamente a cada inverno (e à sua consuetudinária sessão de serração). Todavia, na ânsia agónica de sobreviver, rebentam, furiosa e desesperadamente, todos os anos na Primavera, com uma nova folhagem tão densa que acumula, de Verão, emaranhados de galhos cruzados em copas cerradíssimas, propensas à proliferação de todo o tipo de insectos perniciosos e de parasitas, e ao desenvolvimento de podridões e outras patologias fito-sanitárias, até à decrepitude fatal.
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Hoje, Tavares já não é vereador, mas a espécie de organização política que ele representava ainda é o poder local que decide este género de atrocidades. Filipe Dias também já não preside à Junta. O novo presidente, há apenas ano e meio, é da mesma cor de quem manda na câmara municipal.
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Em todo o caso, e quanto a mim tanto um como o outro, já “estão aqui” há tempo de mais. Até porque, entretanto, o Largo da Feira Velha foi de novo palco de mais uma das suas alarves performances, a exemplo aliás do recentemente perpetrado em Buarcos e, receio, do que se vai perpetrando por todo o concelho (se existe algum método, digamos assim, no processo mental psicopata, é, como se sabe, o método serial, o do trabalhinho em série ou seja, a produção em massa; é isso, suponho, que lhes desperta - em alguma obscura, viciosa e retorcida glândula cerebral - a tão almejada associação entre prazer e poder).
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De maneiras que hoje deparei com o que a foto da direita documenta. E dei comigo a pensar que podar sem saber é como “poder” sem “saber”: invariavelmente dá merda.
E é assim em tudo; não apenas na poda do arvoredo; manda-se porque se pode, sem perguntar a quem sabe, e mainada. E obedece-se sem pensar nem, muito menos, objectar; porque sim, prontos.
Porque o que realmente informa, ou inspira, o exercício deste poder não é uma razão (qualquer razão) baseada no estudo e no conhecimento, mas sim a sua própria consciência de ter poder, razão última porque a sua jactância apenas se completa - ou complementa - na reverência geral, no medo ou na indiferença. E isto é mais verdade quando o poder é absoluto.
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Trata-se, receio, de um atavismo consuetudinário; uma tradição, portanto – mui vetusta e mui portugueza - com certeza. E estamos nisto. Ano 2019. Século vinte e um. Depois de Cristo.
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