Ontem à noite fui à Assembleia de Freguesia de Maiorca, à tomada de posse dos eleitos nas últimas eleições autárquicas. A coisa foi abrilhantada com a presença emérita de notáveis vindos expressamente da sede do concelho: dois vereadores, o presidente da assembleia municipal em pessoa e inúmeros deputados municipais. O modesto salão da Junta rutilava, opíparo de eminências. O novo presidente da junta, Rui Ferreira, partilhou com o vasto público que se dignou ir também assistir que ontem foi o primeiro dia do resto da vida dele. Também confessou, em voz alta para toda a gente ouvir, que ocupa agora o cargo com que sempre sonhou. Digam lá que não é lindo, estas coisas não se inventam, eu assisti mesmo a isto. Rui Ferreira, eleito nas listas do PS, está agora sentado na sua cadeira de sonho.
E, no entanto, nada disto era para ser assim. Foi o que se pôde arranjar. Eu explico, ora leiam por aqui abaixo.
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O favorito para encabeçar as listas do PS por Maiorca era Filipe Dias, o presidente da junta cessante, eleito duas vezes consecutivas plo PSD. Segundo o mujimbo que corre pla terra, o bravo Filipe teria mesmo sido pressionado plas altas esferas da cãmbra muncipal e como recusou (Filipe terá achado que parecia mal seilá mudar de casaca - não perguntem porquê pois por vezes, como referiu o grande Chico Buarque, até as putas têm seus caprichos) terá sido veladamente ameaçado com a possível periclitância do empreguinho da esposa na Câmara Municipal e constrangido a contentar-se com um lugarzito não elegível nas listas do PSD, encabeçada agora por aquele que foi durante oito anos, o seu vice, Sérgio Gil. São episódios destes, assim edificantes, que nos fazem devanear na plítica como uma actividade eminentemente nobre.
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Enfim, idos a votos, a coisa acabou com a vitória do PS por poucos votos e um empate em eleitos com o PSD. A Assembleia de Freguesia ficou constituída por quatro eleitos do PS, quatro do PSD e um da CDU. Chegado o dia da tomada de posse, o elenco do executivo de Rui Ferreira foi aprovado com visível entusiasmo e alegre bonomia por todas as bancadas excepto pela da CDU que votou contra porque não vai em grupos. Sérgio Gil, o cabeça de lista do PSD, tomada a palavra, garantiu mesmo que não vai estorvar, o que segundo os seus requintados padrões de linguagem quer dizer, mais coisa menos coisa, que não vai fazer oposição. Os próximos quatro anos poderiam assim ser um passeio para Rui Ferreira, sei lá, como deus com os anjos - não fora a população de Maiorca ter eleito um representante da CDU.
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Contudo, a razão para tão estranho e pacífico acordo, com certeza previamente cozinhado com muito môlho, logo depois de tão encarniçada campanha, estará talvez no legado de Filipe Dias.
O seu mandato de oito anos foi desastroso. Além de esbardalhar completamente o legado do seu antecessor, Filipe Dias não fez nada que jeito tenha. Começou logo por dois atentados ambientais: a demolição de um bosque de eucaliptos centenários no Parque do Lago e a poda/serração dos plátanos da Feira Velha (que lhe valeram a caricatura e o post que então lhe dediquei neste blogue) e acabou a permitir outro, este perpetrado pela Câmara Municipal: o arraso do carvalhal (o carvalho, meus senhores, é uma árvore protegida) do campo de Futebol. Entretanto ainda teve tempo de crivar a junta de dívidas em indemnizações e multas por não ter pago as contribuições devidas a dois funcionários e por vender património edificado abaixo do seu valor. A única, a verdadeira prioridade da gestão de Filipe Dias foi a Findagrim. É esse o seu legado.
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A Findagrim, a pretexto de ser uma feira de actividades económicas da freguesia, não passa, na verdade, de um festival anual de música pimba que faz de Maiorca, uma vez por ano e por meia dúzia de dias, uma meca para todos os labregos da região e seus contornos. Um mau negócio que além de despesa e muito trabalho não-remunerado de fregueses tão voluntariosos como ingénuos, não traz nenhuma vantagem à junta, nem proveito ao comércio local, nem prestígio a Maiorca - mas que deve ser, só pode, um negócio-da-china para a obscura comissão que a organiza e da qual, estranhamente ou talvez não, o novo executivo parece também querer fazer parte.
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O deslindar deste mistério (e também o da súbita paz dos anjos entre o anterior e o actual executivo) depende exclusivamente do desempenho de José Maia Azedo, o eleito da CDU. Com os eleitos do PSD metidos num bolso, é a ele que cabe fazer perguntas, exigir respostas; enfim, ser oposição.
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Não fora eu, a caminho da Junta de Freguesia, ter caído e ter ficado estendido ao comprido, de cu para o ar junto ao muro do Paço, tendo passado toda a sessão cheio de dores com uma entorse e ter-me-ia divertido com este preâmbulo dos próximos quatro anos. Mas cheira-me que ainda nos vamos divertir quanto baste. Eu e o Maia Azedo. E no que me diz respeito é sempre agradável, duplamente divertido, ter, grátis, tanta matéria-prima para caricatura.
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2 comentários:
Acabo de ler com enorme prazer e gozo, embora com considerável atraso por não desconhecer este animado blog e ter em Maiorca apenas uma residência secundária ou segunda habitação, a descrição da tomada de posse do executivo local.
Sabia já, embora residindo em Lisboa, que o PS ganhara as eleições taco a taco. Confesso que, mesmo tendo sido taco a taco, me deu algum prazer destronar o PSD.
Confesso também que não conheço pessoalmente nenhum dos então candidatos nem tão pouco os respectivos programas( presumo que os teriam...ou não?). Fiquei igualmente satisfeita por ter sabido da eleição de um candidato da CDU ou do PCP. Não sei se é inédito em Maiorca, presumo que não, que noutros tempos já terá havido uma votação mais expressiva na CDU.
Adorei ainda a forma como decorreu a cerimónia, sobretudo pelo facto de os fregueses terem propiciado ao RUI Ferreira a possibilidade de ter iniciado o 1º dia do resto da sua vida.CREDO! Vai sair deste mandato algo de muito transcendente, pela certa.
Ou será que as eleições não terão sido mais do que um salto para trás para balanço de dois em frente?
Ignorava a pesada herança do Filipe Dias ( ?). E nem tão pouco sabia que a Findagrin era a sua OBRA DE REGIME. Muito pimba, sem dúvida, mas se já está na calha do próximo executivo será, seguramente, um evento muito apetitoso para alguém. Para mim ( já lá fui umas 3 vezes) vale pelo arroz doce e pelos jantares de primos em férias.
Adorava ter assistido à tomada de posse, não tive hipótese, vivo em Lisboa e tinha outros afazeres. Mas o presente relato levou-me lá. Por essa razão valeu a pena ter -me sido dada a hipótese de aceder a este blog. Amei, amei, amei.Um pedaço de arte animada.
E fico à espera dos resultados.
Para já deixo o meu obrigada pela boleia e felicito o bloger pela avaliação do anterior presidente, do seu amor ou desamor às árvores, pelas dívidas, enfim, pelo que ficou dito e pelo que foi omitido. Palavras para quê???
Em tempo: Ressalvo a primeira frase. De facto eu DESCONHECIA o blog. Tive acesso a ele apenas hoje.Gostei!
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