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Por vezes, quando não me apetece desenhar, acontece-me
deambular. Contudo, levo sempre comigo um aparelho fotográfico. Como
dizia o grande Kurt Schwitters, tudo o que
um artista faz é arte.
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Embora não seja bem Cunha
Rocha, esta foto representa, de certo modo, uma marinha: não possui, é verdade, a transparência de uma aguarela do
velho mestre (o dia estava turvo) nem a força transcendente de um dos seus alagados (a vida tem sido uma seca
severa), mas tem tudo o que manda o figurino: céu em cima; água no meio e até uma
ponta de areia, por baixo; sem barquinhos nem gaivotas; nada de anedótico ou
circunstancial. Se isto não é arte, é documento, porra; ou seja, arte documental. E para memória futura.
É com ela que inauguro uma nova etiqueta neste blogue, a que chamarei o estado da arte.
Praia
do cagalhão, Figueira da Foz, Abril
de 2012.
É nestas águas salobras e tépidas, que já lavaram as mágoas da cidade (de várias cidades,
desde a Serra de Estrêla) e foram lavadas pelo sal do oceano com o qual entretanto
se misturaram, que os figueirenses mais pobres de espírito vêm, de Verão, dar
banho às almas e aos cães.
Ao centro, na foto, a foz do rio Mondego, entre, à
esquerda, o molhe sul e, à direita, o recente e garboso molhe norte; logo a
seguir, o Oceano Atlântico himself e
depois, muito para lá do se vê, a América - não tem nada que enganar, é sempre
em frente.
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Para cá do que se vê, ficará, depois das obras de requalificação da zona envolvente
do Forte de Stª Catarina, financiadas pelo QREN e por contrapartidas do
jogo:
- um espelho de água artificial,
à cinta do citado forte;
- uns quantos cortes de ténis para usufruto, naturalmente,
desse tão reputado como selecto e pouco laureado Club de Tennis que está, afinal, à imagem da burguesia que representa: uma classe alta cujo empreendedorismo é de cunho muito mais recreativo do que competitivo.
-um anfiteatro ao ar livre que adoptará, suponho que por
inerência e com naturalidade, o
topónimo do lugar.
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Porém, à direita do molhe norte e imediatamente para lá do que se vê, também
está previsto, num estudo premiado num concurso
de ideias para aproveitamento do areal da praia promovido pelo município, a
edificação de uma piscina oceânica. Isso mesmo. Entre a foz do rio e o mar oceano
propriamente dito.
Claro que não será uma
piscina de características megalómanas, olímpicas ou de competição, nunca. Como empreendimento turístico eminentemente estruturante, o objectivo
da coisa deve ser meramente recreativo. Como aliás tudo, nesta terra, habitualmente.
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