O meu amigo Paulo Diogo inaugurou mais uma exposição de pinturas, desta feita no Tubo de Ensaio.
O seu trabalho continua estimulante, aliás no sentido da mostra do CAE. Contudo Paulo vai mais longe ainda na especulação sobre os conceitos de moldura e de superfície pictórica, e sempre com um humor refrescante e ousado.
A inauguração decorreu num destes entardenoiteceres* chuvosos da nossa melancolia.
Em conversa com amigos (fala-se de tudo nas inaugurações de pintura, até de pintura) a charla desaguou na crise, na arte, na Figueira, na crise da arte, na crise da Figueira, nas dificuldades que vivem os criadores artísticos e nos inexistentes hábitos culturais dos figueirenses.
A inauguração decorreu num destes entardenoiteceres* chuvosos da nossa melancolia.
Em conversa com amigos (fala-se de tudo nas inaugurações de pintura, até de pintura) a charla desaguou na crise, na arte, na Figueira, na crise da arte, na crise da Figueira, nas dificuldades que vivem os criadores artísticos e nos inexistentes hábitos culturais dos figueirenses.
Alguém lamentou que a classe endinheirada local, mesmo dentro do seu muito exclusivo inner circle, não cultive o gosto de oferecer Arte.
Logo alguém retorquiu que o gosto tem que ver com o hábito e este com a educação: de pequeninos, nunca lhes ofereceram livros e não os ensinaram a retribuir; os pobrezinhos nunca conheceram o puro deleite estético ou sequer a simples reflexão; entretanto cresceram e conheceram o empreendorismo.
Tornaram-se empreendedores.
E a Figueira tornou-se naquilo que Paulo Diogo, com mestria, ilustra nesta tela "aux couleurs criardes".
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*Palavra “roubada” ao Daniel Abrunheiro, com deferência.
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Adenda: Mas atenção que o novo poder autárquico, cônscio de que a crise económica é eminentemente um problema cultural estrutural - chegou à conclusão de que o único fenómeno estético ao qual a classe dirigente, e até o povo em geral, é sensível, é o balé (o que talvez configure uma atávica e inexplicável fascinação com o que pensam ser um epítome de elegância ou de distinção) - já tomou medidas que serão implementadas pela criação, no CAE, de uma academia de dança. O pugrama é algo retorcido mas pode ser que funcione.
Adenda: Mas atenção que o novo poder autárquico, cônscio de que a crise económica é eminentemente um problema cultural estrutural - chegou à conclusão de que o único fenómeno estético ao qual a classe dirigente, e até o povo em geral, é sensível, é o balé (o que talvez configure uma atávica e inexplicável fascinação com o que pensam ser um epítome de elegância ou de distinção) - já tomou medidas que serão implementadas pela criação, no CAE, de uma academia de dança. O pugrama é algo retorcido mas pode ser que funcione.
A ideia é, através do balé, familiarizar os figueirinhas das classes favorecidas, e do povo em geral, com a ideia da fruição cultural. É assim: “(...)ensino de altíssimo nível. Claro que as crianças e adultos que a frequentarem terão de pagar entre 20 a 30 euros por mês. (...) Entretanto, os pais das crianças que ali terão os seus filhos, frequentarão o CAE, porque ali vão buscar as suas crianças (em Fátima, a companhia tinha 80 alunos na escola provenientes de vários pontos da região). O CAE tem estado aberto e “às moscas” quando não há espectáculos; agora haverá crianças a entrar e a sair, pais a irem buscar os seus filhos, a usarem o café enquanto esperam, a verem as exposições, etc. Parece-me que será bom.”
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Mas eu, como sou de um cepticismo impenitente, guardo algumas reservas. Parece-me um tanto arriscado e repetitivo: António Ferro já o tentou, com o “Verde Gaio”. Com os resultados que se conhecem.
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2 comentários:
você é fodido mas a música é excelente. Quem é o sax?
Obrigado.
É Paul Gonsalves, tão injustamente esquecido. Era o solista preferido do Duke.
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