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sábado, 1 de março de 2008

Improviso nº4 - A Nova Parvónia, ou o país dos patos-bravos








António Barreto, o sociólogo que foi ministro da Agricultura, achava que o país não precisava de produzir o que consumia, bastava importá-lo. Por isso, restituiu as propriedades agrícolas aos seus “legítimos proprietários”, que delas fizeram belas segundas residências, campos de golfe, reservas de caça ou estâncias (agora diz-se resorts) de turismo rural. O bom homem pensava, certamente bem fundamentado, que o desígnio nacional seriam os “serviços”: aviar copos e fazer camas aos turistas seria o destino traçado para um glorioso desenvolvimento.

O sociólogo realizou recentemente um muito celebrado documentário para a televisão onde pintava um retrato dourado e amável do Portugal dos últimos trinta anos, por fim livre do atraso da ruralidade.

Só que agora Barreto anda deprimido. Pessimista. Azedo. Desgostoso, pinta imagens tenebristas da mentalidade indígena. O país rural está às moscas, o litoral está apinhado, há mais velhos do que crianças e uma em cada quatro delas corre o risco de pobreza. Em três anos o preço do pão subiu 50%.
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Mas há algo de novo!
Um dado sociológico novo. Tão novo e tão extravagante, que me parece estranho que tenha escapado aos argutos observadores, comentadores, politólogos e sociólogos que do alto das suas colunas nos jornais de referência, vão fazendo opinião.
Este fenómeno novo é revelador de quão longe o país de hoje está daquele cliché rural tacanho e atrasado que tanto compungia Barreto, o pobre sociólogo.

E este dado novo, segurem-se, é a Arte.
A atitude do português perante a arte. “São poucos os sectores que não se queixam da crise em Portugal, mas um deles é o da arte, cada vez mais um bom negócio. Só no último ano apareceram em Portugal três novas leiloeiras”.

Os portugueses descobriram que a arte pode, em tempo de crise, ser “um activo diferente dos tradicionais”. E mais: “as pessoas aperceberam-se que a arte pode ser um investimento que não desvaloriza, pelo contrário”.


Ora digam lá se isto não é novo. O País está tão moderno que o burguês apreciador de arte já não se interessa apenas pelo que reconhece (as tradicionais paisagens, retratos ou marinas).

Agora até reconhece numa abstração ou mesmo numa instalação, activos que não desvalorizam!
Isto sim é um passo de gigante na evolução da mentalidade de lineu das elites endinheiradas!Trata-se do adeus definitivo à tacanhez dos tempos da ruralidade. E em tempo de crise!

O país não faz nada (os cereais que produz não chegam para bio-diesel), compra tudo feito.

Mas entrou definitivamente na contemporaneidade.
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