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terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Ruy Duarte de Carvalho


O CCB iniciou ontem um ciclo dedicado à obra multifacetada do angolano Ruy Duarte de Carvalho.

É a primeira vez que o CCB dedica este tipo de destaque a um autor de língua portuguesa.


Conheço a obra deste angolano invulgar desde o final dos anos 70, quando adquiri um livrinho seu numa livraria em Chaves: “Exercícios de crueldade”, (a ilustração deste postal é a reprodução da magnífica gravura que acompanhava, em hors-texte, essa edição de poemas. É da autoria do pintor, também angolano, António Ole).





Ruy Duarte é um homem fascinado pelo Sul, pelo deserto e pelos povos transumantes dessas paragens de Angola, e eu acompanho-lhe desde então a desmesura e o percurso desse fascínio, através dos seus livros: Chão de Oferta; A decisão da idade; Como se o mundo não tivesse leste; Ondula, savana branca, Os papeis do Inglês, etc.


A explicação do cacto
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Um cacto reservado
acrescenta lateral o seu crescer
como se fora um cancro
em feminino sexo.

Emite um espinho novo que anuncia
O altear suave da excrescência-mãe.
Impele o corpo à volta, a modelar-se em bordos.
Depois adere à pele e funde-lhe os contornos.
Promove inchaços para expandir raízes.

Da inocência vegetal da posse
medida em seus segredos de expansão
um cacto aufere a graça
de acrescentar-se em escamas de silêncio.

Conquista assim
razões para a vocação que o determina.
A vocação do cacto:
fundir-se em carne e prosperar em gomos.
A explicação do cacto:
a mineral tendência para sentir-se imóvel.
O fascínio do cacto:
a carne imóvel exposta aos apetites.


A imobilidade do cacto enfrenta o quanto sabe
da curva das pressões e da língua dos ventos
quando encrespa as águas.

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