Começou ontem, com muita fanfarra e não menos polémica, a festividade de curiosidades e bizarrias que o mainstream cultural tem para vender a tolos endinheirados e pretensiosos: A Arco de Madrid.
Mas a dinâmica mercantil do caldo de cultura liberal em que vivemos, ou seja, a lógica teixeiradossantos, já se apossou até do discurso de um insuspeito criador cultural, que fala agora como se fosse um secretário de Finanças. Gilberto Gil, o ministro da cultura do Brasil (país convidado, com mais de 100 artistas convidados), para justificar os 2.6 milhões de reais que empatou num evento comercial, soltou esta pérola: “A arte contemporânea que se faz no Brasil é cada vez mais apreciada como manifestação cultural mas também como valor no mercado”. E é «irrecusável» reconhecer a dimensão económica da cultura, pois esta representa aproximadamente 8% do PIB do Brasil.
Sempre me deixou algo perplexo o fascínio que este festival de bizarrias exerce sobre os media e até sobre artistas meus amigos. Há mesmo deles que fazem viagens organizadas ao logro. Olhem, aproveitem que estão lá, e vão ao Prado. A arte (helas) está no museu. A feira é de curiosidades. Digo eu.
Vivemos cada vez mais uma perversão cultural profunda: noutros tempos, era necessária uma caução de qualidade para a Arte vender. Agora, a qualidade é garantida e caucionada pela venda. Deve ser isto a função reguladora do mercado(!). Isto não tem que ver com liberdade, mas tem que ver com confusão de conceitos. E também de valores.
Apetece pixar tudo. Pode ser que venda.
.
Apetece pixar tudo. Pode ser que venda.
.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário