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sexta-feira, 16 de novembro de 2007

A falta e o respeito

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Picasso, As meninas

“(…) por paradoxal que seja, o que a falta de respeito implica acima de tudo é um conhecimento aturado do objecto de agravo, sem o qual o respeito nunca poderia ter existido e a sua falta nunca haveria de encontrar expressão.”
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Confesso que não estou habituado a concordar ipsis verbis com algo que vejo publicado.
É o caso deste texto de João Paulo Sousa.
Com um temperamento muito céptico, desde sempre me vi confinado a ser uma espécie de caso isolado, contra uma corrente massificada de teorias politicamente correctas, quase unanimemente aceites.
Confesso que me irrito, e convivo mal com isso, com a atávica tendência para a aceitação de modelos importados.
Agora, a moda generalizada e bem aceite, é a adopção cega, canina e deleitada dos preceitos da cultura anglo-saxónica, desde as suas vanguardas artísticas e culturais aos modelos económicos. O ridículo disto vai ao ponto de, por exemplo, os pivots da informação televisiva referirem nomes francófonos, germânicos, russos, etc., com a pronúncia anglo-saxónica. Mas o ridículo estende-se já à grafia, por exemplo, a capital da China deixou mesmo de ser Pequim e passou a ser Beijing.
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Mas agora, quando toda a propaganda oficial prega a sacrossanta Inovação, (a Inovação passou a ser o credo da república e de toda a opinião publicada), deixem-me exprimir alguma perplexidade:
-Como se pode inovar o que quer que seja se não se conhece?
-Como se pode pretender o novo se não se conhece o dado adquirido?
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.Retomando o texto em epígrafe, como se pode “faltar ao respeito” ao passado se não se tem dele conhecimento?
Penso que em vez de se promover o facilitismo, a ignorância, a informação pela rama e a adopção cega de modelos importados, talvez não fosse má ideia investir mais no Conhecimento. No auto-conhecimento. A inovação virá daí. Não de cima. Nunca vem de cima.
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Mas receio que, como sempre, e como escreveu um dia Daniel Abrunheiro, ”vamos todos a caminho do esquecimento, essa doce praia.”
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