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No passado dia 29 de Julho estive em Cantanhede, na Expo/FACIC.
A Magenta, associação de artistas da qual faço parte, teve por lá um stand. Durante os dias da feira, a Magenta fez questão de ter dois artistas por dia pintando “ao vivo”. No Domingo, calhou-me a vez a mim e a Filinto Viana. Embora não aprecie grandemente estas sessões, de um certo exibicionismo vazio, aceitei participar.
Talvez por estar em terras do Marquês (não o divino, apenas o de Marialva) eu quis fazer algo completamente diferente...
Está bem, o homónimo vinho da cooperativa local deve ter tido alguma influência.
Tinha levado de casa um saco com materiais de pintura, entre os quais uma velha espátula que nunca tinha usado, e embora estivesse uma crua luz solar e uma canícula de ananases, o que me saiu foi algo sombrio e barroco, mais tenebrista que flamejante.
No dia seguinte, já em casa, é que eu me apercebi do alcance da coisa: às vezes, muitas vezes, o que realizamos é apenas um reflexo difuso do que vimos. E o que eu vejo quando olho para este personagem setecentista, é um reflexo difuso (pela luz quente de Cantanhede ou talvez pelos vapores do Marquês de Marialva, que acompanhou a refeição) da magnífica pintura de Frans Hals. É dele o retrato mais conhecido de Descartes. E não só. O mestre holandês para quem o gesto e os seus vestígios tinham uma importância que só foi reconhecida muito mais tarde.
A sua técnica, de numerosas pinceladas justapostas e aparentemente apressadas permitiu-lhe captar instantâneos muito antes da invenção da fotografia e muito mais palpitantes de vida e de emoção do que esta. E ainda ser um dos percursores do impressionismo, ao aliar a esta precisão a subjectividade. Hals foi dos primeiros a não disfarçar a pincelada usando lambidinhos e vernissages. Estes vestígios do gesto criativo permitem adivinhar, ou ver, não apenas a emoção do artista (na versão dos românticos) mas sobretudo o seu raciocínio.
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