Não é fácil falar dos amigos.
O Filinto Viana é meu amigo.
Um dia destes fiz-lhe uma visita no seu atelier no Bairro Novo, onde se instalou há um ano, após alguns meses de um sofrimento que apenas imagino, sem ter um espaço para fazer o que melhor sabe e gosta: Pintar.
O Filinto Viana é daqueles que pensam Pintura desde que se levantam e sonham com ela até que se deitam. A sua relação com esta arte é a tempo inteiro. Filinto vive amancebado com a Pintura 24 horas ao dia, sem férias nem fins-de-semana. Às vezes, com os amigos, tem desabafos: “Estou farto dela. Tenho que parar,” como se falasse de uma amante muito exigente… Mas nunca consegue estar longe da confusão do seu atelier mais do que umas horas.
A confusão, o caos, a desarrumação do seu atelier são proverbiais entre quem o conhece. Mas são apenas o que Filinto e o seu espírito anárquico e rebelde necessitam para consumar a imensa paixão que nutre por uma arte que muitos apenas amam.
Contudo esta é uma paixão tardia. Mas, talvez por isso, mais madura e intensa. Filinto descobriu a Pintura, já passava dos trinta. Logo a paixão foi mútua e após o seu início, junto de Michael Barrett e Mário Silva, a sua arte cresceu e hoje é, sem dúvida, um dos mais notáveis artistas que conheço.
Os frutos desta relação tempestuosa são numerosos (ele é um artista prolífico, torrencial) e cada vez mais complexos.
Filinto Viana vai se libertando da figuração estereotipada do seu início, através dum instintivo e anárquico método e de um critério colorista requintado, criando uma figuração difícil de catalogar, suportada por acordes de cores e tonalidades sofisticados que demonstram uma Arte cada vez mais reflectida.
O Filinto Viana é um grande artista.
Afinal, assim, fica fácil falar dos amigos. Com adjectivos, mas sem baboseiras, que eu não cultivo amizades nem verdades parciais. Porque assino sempre em baixo.
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