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segunda-feira, 14 de março de 2022

António Saraiva

"[A vitória do PS] não me deixou apreensivo. Aquilo que o PS nos ia dizendo, através de António Costa, é que estava refém, digamos, dos partidos da esquerda parlamentar, dos acordos que tinha de fazer para aprovação dos Orçamentos. Libertou-se desse constrangimento. Agora o que teremos de aproveitar é esta maioria absoluta do PS para um novo ciclo económico.” 

António Saraiva

O senhor António Saraiva é o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) - digamos que é assim uma espécie de bastonário da Ordem dos Patrões Portugueses. Um senhor. Especialista em corporeite diplomassi e associativismo. Comendador da Ordem do Infante.

Tal como Salazar, que era filho de um caseiro e se transformou naquela espécie vitalícia de bastonário da ordem dos latifundiários, Saraiva também veio de baixo e chegou ao tópingue. Começou aos 17 anos, como operário da Lisnave e foi sindicalista e tudo. Contudo, para chegar a bastonário da ordem dos patrões, Saraiva trabalhou muito, dia e noite, administrou muitas empresas pequenas e médias e assim-assim e estudou imenso, de noite e de dia e até aos Domingos e feriados, embora nunca tenha concluído a licenciatura. Facto que não o impede de todo de leccionar Corporate Diplomacy no ISCSP e Desenvolvimento Económico na Coimbra Business School.

Muito mais do que um simples self-made-man, Saraiva é um self-made-superman.

Sim, porque Saraiva também preside a variados conselhos de administração, vice-preside a outros tantos, é administrador não-executivo de mais uns quantos e vogal num ou noutro conselho estratégico. Também é membro do Conselho de Escola do ISCSP; membro do Conselho de Curadores do ISCTE; membro do Conselho Consultivo da Católica Porto Business School e Membro do Conselho Geral Estratégico da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.

Tal como o seu antecessor no cargo de presidente da CIP, um tal de VãoZéler, Saraiva também é um fero adversário da subida do salário mínimo. Sempre que se verifica a mais pequena subida deste rendimento do trabalho, Saraiva levanta a sobrancelha e certifica-se pessoalmente (ele tem lugar cativo sentado à mesa da concertação social) que ela seja sempre devidamente subvencionada pelo estado – isto é, por todos os contribuintes - e nunca, jamais, pelos accionistas das empresas que ele representa.

Trata-se de um dos homens mais influentes de Portugal.

Foi ele o confidente de António Costa durante os seis longos e amargos anos que este passou barbaramente sequestrado pelos partidos da esquerda parlamentar, esses malvados, que selvaticamente tinham feito dele primeiro-ministro.

Saraiva está (nota-se em entrevistas recentes) não só visivelmente aliviado por que o seu confidente se libertou de vez de constrangimentos como embevecido com o novel absolutismo socialista, mas também genuinamente entusiasmado com as perspectivas de um novo ciclo económico, se é que me entendem. 

Sucintamente, trata-se de ir ao pote. Por isso preparem-se, que há-de ser à tripa-forra.

Enfim, por estas e outras, fiz-lhe o retrato. Para o meu álbum dos rostos da classe dirigente.

 

2 comentários:

cid simoes disse...

Eu não lhe fazia o retrato, fazia-lhe a folha.

X Dias Longo disse...

Sempre ouvi dizer que "não peças a quem pediu nem sirvas a quem serviu" este figurão enche a boca de meritocracia e depois fica todo irritado quando se pede aumento do salario mínimo, que só por si é miserável.
Na nossa sociedade não faltam destes passarões
um abraço