"[A vitória do PS] não me deixou apreensivo. Aquilo que o PS nos ia dizendo, através de António Costa, é que estava refém, digamos, dos partidos da esquerda parlamentar, dos acordos que tinha de fazer para aprovação dos Orçamentos. Libertou-se desse constrangimento. Agora o que teremos de aproveitar é esta maioria absoluta do PS para um novo ciclo económico.”
António Saraiva
O senhor António
Saraiva é o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) - digamos
que é assim uma espécie de bastonário da Ordem dos Patrões Portugueses.
Um senhor. Especialista em corporeite diplomassi e
associativismo. Comendador da Ordem do Infante.
Tal como Salazar, que era filho de um caseiro
e se transformou naquela espécie vitalícia de bastonário da ordem dos
latifundiários, Saraiva também veio de baixo e chegou ao tópingue.
Começou aos 17 anos, como operário da Lisnave e foi sindicalista e tudo. Contudo,
para chegar a bastonário da ordem dos patrões, Saraiva trabalhou muito,
dia e noite, administrou muitas empresas pequenas e médias e assim-assim e
estudou imenso, de noite e de dia e até aos Domingos e feriados, embora nunca
tenha concluído a licenciatura. Facto que não o impede de todo de leccionar Corporate
Diplomacy no ISCSP e Desenvolvimento Económico na Coimbra
Business School.
Muito mais do que um simples self-made-man,
Saraiva é um self-made-superman.
Sim, porque Saraiva também preside a variados conselhos
de administração, vice-preside a outros tantos, é administrador não-executivo
de mais uns quantos e vogal num ou noutro conselho estratégico. Também é
membro do Conselho de Escola do ISCSP; membro do Conselho de
Curadores do ISCTE; membro do Conselho Consultivo da Católica Porto
Business School e Membro do Conselho Geral Estratégico da Universidade
Lusófona de Humanidades e Tecnologias.
Tal como o seu antecessor no cargo de
presidente da CIP, um tal de VãoZéler, Saraiva também é um fero
adversário da subida do salário mínimo. Sempre que se verifica a mais pequena
subida deste rendimento do trabalho, Saraiva levanta a sobrancelha e
certifica-se pessoalmente (ele tem lugar cativo sentado à mesa da concertação
social) que ela seja sempre devidamente subvencionada pelo estado – isto é,
por todos os contribuintes - e nunca, jamais, pelos accionistas das empresas
que ele representa.
Trata-se de um dos homens
mais influentes de Portugal.
Foi ele o confidente de António Costa durante
os seis longos e amargos anos que este passou barbaramente sequestrado pelos
partidos da esquerda parlamentar, esses malvados, que selvaticamente tinham
feito dele primeiro-ministro.
Saraiva está (nota-se em entrevistas recentes) não só visivelmente aliviado por que o seu confidente se libertou de vez de constrangimentos como embevecido com o novel absolutismo socialista, mas também genuinamente entusiasmado com as perspectivas de um novo ciclo económico, se é que me entendem.
Sucintamente, trata-se de ir ao pote. Por isso preparem-se, que há-de ser à tripa-forra.
Enfim, por estas e outras, fiz-lhe o retrato.
Para o meu álbum dos rostos da classe dirigente.
2 comentários:
Eu não lhe fazia o retrato, fazia-lhe a folha.
Sempre ouvi dizer que "não peças a quem pediu nem sirvas a quem serviu" este figurão enche a boca de meritocracia e depois fica todo irritado quando se pede aumento do salario mínimo, que só por si é miserável.
Na nossa sociedade não faltam destes passarões
um abraço
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