Estava para nem o referir (este não é um blogue de
efemérides) mas dado o relevo que lhe tem sido dado pelas redes sociais, decidi,
também eu, comemorar o 25 de Novembro. Decidi fazê-lo com um retrato de Jaime Neves (quem mais?) o ídolo da juventude liberal, hoje tão festejado.
O retrato vai ilustrado com um texto colorido e é um entre outros
124 que compõem um álbum de caricaturas cuja edição estou a preparar e que, em princípio,
se vai chamar qualquer coisa como: Portugal
– Os rostos da classe dirigente - 125 caricaturas desenhadas a
traço fino com circunspecção analítica copiosamente ilustradas com outros
tantos textos judiciosos e coloridos”.
Jaime
Neves
Militar e empresário, de sucesso. Herói da Pátria
(quase tão condecorado como Marcelino da Mata, ainda que mais promovido).
Filho de um polícia transmontano, Jaime Neves entrou para a Escola
do Exército com dezassete anos. O exército nunca mais saiu dele. Aos vinte
e nove, como Major, recebeu a cruz de guerra de primeira classe porque
levou um tiro de raspão. Aos trinta e cinco, como Major graduado, já
comandava o Batalhão de comandos de Montepuez e chefiava 2500 homens -
era o senhor da guerra em Moçambique. De
helicóptero, ia até à frente de combate. Coordenava as operações por rádio,
desde o ar, “uma experiência que uma vez sentida nunca mais se esquece”.
Foi assim, esvoaçando entre as valquírias,
que perpetrou outro dos actos de heroísmo que lhe valeram o reconhecimento de
pares e superiores e imenso prestígio em todas as rodésias: o
massacre de Wiriyamu, em Dezembro de 1972. Os números exactos nunca
serão conhecidos e nunca ninguém foi julgado, mas segundo a descrição do padre
jesuíta Adrien Hastings na ONU, queimaram-se pessoas vivas em cabanas,
mataram-se crianças à machadada, jogou-se futebol com as cabeças dos mortos.
Guiada por informações da Direção Geral de Segurança, antiga PIDE, a 6ª
companhia de comandos, do Batalhão de Montepuez, a tropa de Jaime Neves,
dizimou um terço da população civil de Wiriyamu. E ficou na zona,
heroicamente, a matar civis desarmados durante, pelo menos, três dias.
Acabada a comissão, Jaime Neves regressou
à metrópole. Mas muito descontente com o regime – não por ser uma
ditadura, mas por não lhe dar meios para vencer a guerra. Por isso
juntou-se a Otelo e, a 25 d’Abril de 1974, foi um dos operacionais decisivos
para, heroicamente, sem dar um tiro, depor o regime e entregar o poder a uma junta
de salvação presidida por dois dos generais mais destacados do regime
deposto.
Durante todo o processo revolucionário
Neves, a tiro ou à chapada, resolveu heroicamente motins, suprimiu greves,
controlou manifestações. Também foi destacado para forçar a rendição de
duas companhias de Comandos em Moçambique: a 20-43 e a 20-45, que recusaram
parar de lutar após a Revolução e continuavam alegremente a matar pretos,
contra as ordens do exército português e dos acordos de cessar-fogo. Conseguiu-o
sem dar ordem de detenção a um único dos Comandos insurrectos.
A 25 de Novembro de 1975, Jaime Neves foi o operacional
fundamental na neutralização definitiva do PREC (processo revolucionário em
curso) salvando a pátria dos malvados dos comunistas, tornando-se assim um dos heróis do
novo regime e outro dos inúmeros pais da nossa democracia. Foi promovido
a tenente-coronel no próprio dia.
Em 1981 passou à reserva. Foi para a privada.
Dedicou-se aos negócios. Primeiro ao serviço de Jorge de Brito, um magnata do
antigo regime, a quem ajudou a recuperar património nacionalizado
durante a revolução. Depois, descobriu o maravilhoso mundo da segurança
privada e, sempre preocupado com a segurança da pátria, uma outra maneira
de, mesmo na reforma, poder continuar a servi-la, de pantufas.
Criou uma empresa nesse ramo de actividade e baptizou-a com o nome de
uma das companhias de comandos que tinha ido resgatar a Moçambique - a 20-45,
que tinha continuado a matar mesmo depois da paz ser decretada. Deu-lhe fardas
escuras e boinas vermelhas.
Em 20 anos, a empresa com nome de Companhia de
Comandos tornou-se um gigante da segurança privada. Graças a
prestimosos contratos para servir o estado, de quem recebeu 40 milhões e
8oo mil euros.
O estado, e a classe que o dirige, não
paga a traidores; mas aos heróis recompensa-os copiosamente. Mas também os
reconhece. Em 2009, já reformado, foi promovido a Major-General.
Em 2013 o negócio que ajudou a montar já contava com mais efectivos do que todo o exército e as polícias juntas. Morreu, então, descansado - a pátria amada estava, finalmente, em segurança (privada).
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2 comentários:
Venha lá esse álbum antes do Natal.
Caro cid, receio que ainda não seja antes deste. Talvez antes do próximo. Um Abraço.
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