.

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

a 25 de Novembro

Estava para nem o referir (este não é um blogue de efemérides) mas dado o relevo que lhe tem sido dado pelas redes sociais, decidi, também eu, comemorar o 25 de Novembro. Decidi fazê-lo com um retrato de Jaime Neves (quem mais?) o ídolo da juventude liberal, hoje tão festejado.

O retrato vai ilustrado com um texto colorido e é um entre outros 124 que compõem um álbum de caricaturas cuja edição estou a preparar e que, em princípio, se vai chamar qualquer coisa como:  Portugal – Os rostos da classe dirigente - 125 caricaturas desenhadas a traço fino com circunspecção analítica copiosamente ilustradas com outros tantos textos judiciosos e coloridos”.

Jaime Neves

Militar e empresário, de sucesso. Herói da Pátria (quase tão condecorado como Marcelino da Mata, ainda que mais promovido).

Filho de um polícia transmontano, Jaime Neves entrou para a Escola do Exército com dezassete anos. O exército nunca mais saiu dele. Aos vinte e nove, como Major, recebeu a cruz de guerra de primeira classe porque levou um tiro de raspão. Aos trinta e cinco, como Major graduado, já comandava o Batalhão de comandos de Montepuez e chefiava 2500 homens - era o senhor da guerra em Moçambique. De helicóptero, ia até à frente de combate. Coordenava as operações por rádio, desde o ar, “uma experiência que uma vez sentida nunca mais se esquece”.

Foi assim, esvoaçando entre as valquírias, que perpetrou outro dos actos de heroísmo que lhe valeram o reconhecimento de pares e superiores e imenso prestígio em todas as rodésias: o massacre de Wiriyamu, em Dezembro de 1972. Os números exactos nunca serão conhecidos e nunca ninguém foi julgado, mas segundo a descrição do padre jesuíta Adrien Hastings na ONU, queimaram-se pessoas vivas em cabanas, mataram-se crianças à machadada, jogou-se futebol com as cabeças dos mortos. Guiada por informações da Direção Geral de Segurança, antiga PIDE, a 6ª companhia de comandos, do Batalhão de Montepuez, a tropa de Jaime Neves, dizimou um terço da população civil de Wiriyamu. E ficou na zona, heroicamente, a matar civis desarmados durante, pelo menos, três dias.

Acabada a comissão, Jaime Neves regressou à metrópole. Mas muito descontente com o regime – não por ser uma ditadura, mas por não lhe dar meios para vencer a guerra. Por isso juntou-se a Otelo e, a 25 d’Abril de 1974, foi um dos operacionais decisivos para, heroicamente, sem dar um tiro, depor o regime e entregar o poder a uma junta de salvação presidida por dois dos generais mais destacados do regime deposto.

Durante todo o processo revolucionário Neves, a tiro ou à chapada, resolveu heroicamente motins, suprimiu greves, controlou manifestações. Também foi destacado para forçar a rendição de duas companhias de Comandos em Moçambique: a 20-43 e a 20-45, que recusaram parar de lutar após a Revolução e continuavam alegremente a matar pretos, contra as ordens do exército português e dos acordos de cessar-fogo. Conseguiu-o sem dar ordem de detenção a um único dos Comandos insurrectos.

A 25 de Novembro de 1975, Jaime Neves foi o operacional fundamental na neutralização definitiva do PREC (processo revolucionário em curso) salvando a pátria dos malvados dos comunistas, tornando-se assim um dos heróis do novo regime e outro dos inúmeros pais da nossa democracia. Foi promovido a tenente-coronel no próprio dia.

Em 1981 passou à reserva. Foi para a privada. Dedicou-se aos negócios. Primeiro ao serviço de Jorge de Brito, um magnata do antigo regime, a quem ajudou a recuperar património nacionalizado durante a revolução. Depois, descobriu o maravilhoso mundo da segurança privada e, sempre preocupado com a segurança da pátria, uma outra maneira de, mesmo na reforma, poder continuar a servi-la, de pantufas. Criou uma empresa nesse ramo de actividade e baptizou-a com o nome de uma das companhias de comandos que tinha ido resgatar a Moçambique - a 20-45, que tinha continuado a matar mesmo depois da paz ser decretada. Deu-lhe fardas escuras e boinas vermelhas.

Em 20 anos, a empresa com nome de Companhia de Comandos tornou-se um gigante da segurança privada. Graças a prestimosos contratos para servir o estado, de quem recebeu 40 milhões e 8oo mil euros.

O estado, e a classe que o dirige, não paga a traidores; mas aos heróis recompensa-os copiosamente. Mas também os reconhece. Em 2009, já reformado, foi promovido a Major-General.

Em 2013 o negócio que ajudou a montar já contava com mais efectivos do que todo o exército e as polícias juntas. Morreu, então, descansado - a pátria amada estava, finalmente, em segurança (privada). 

.

2 comentários:

cid simoes disse...

Venha lá esse álbum antes do Natal.

fc disse...

Caro cid, receio que ainda não seja antes deste. Talvez antes do próximo. Um Abraço.