“Hoje, Pedro Santana Lopes, Paulo
Mariano e uma Comitiva de candidatos do Movimento Figueira a Primeira visitaram
o Porto da Figueira da Foz mais concretamente a Operfoz para auscultar as
necessidades e problemas que os estivadores sentem, tentando perceber como a Câmara Municipal pode ajudar a resolver.
Foram recebidos pelo Presidente do
Sindicato dos Trabalhadores Portuários da Figueira da Foz, Manuel Gonçalves.
Desta visita resultou uma conversa
franca e aberta de ambas as partes tendo sido apresentadas por parte do
sindicato algumas medidas que gostavam de ver aplicadas frisando um ponto
incompreensível, que é o facto deste ser o único porto do país onde um camião
tem de pagar para entrar (2,85 €).”
Na Figueira qualquer campanha eleitoral para as autárquicas
é um prato cheio de toda a sorte de bizarrias mais ou menos peculiares que
ilustram, sempre com cores pitorescas, a essência eminentemente anedótica e paroquial
da prática política local.
A deste ano não desmerece. Já houve vandalismo (ao
património e à propaganda dos comunas), denúncias ao tribunal, acusações,
ofensas, ameaças, queixas, visitas, passeatas, comícios, porco no espeto, munto
cumbíbio, artistas convidados, bailinho e cantorias, discursos
ditirâmbicos, promessas mirabolantes, mais promessas, inaugurações e
indemnizações à boca das urnas, discursos inflamados, mais promessas,
etc. Enfim, o habitual.
No meio desta vida loca habitual, o episódio que
reproduzi acima, retirado ipsis verbis da página da candidatura de
Santana Lopes no facebook, é uma dessas estórias exemplares.
Santana foi ao porto da Figueira. Podia ter ido, por
exemplo, à Marinha das Ondas auscultar as necessidades e problemas dos
trabalhadores da Lusiaves e tentar perceber
como a Câmara Municipal pode ajudar a resolver uma questão
gritante de direitos humanos. Mas não era a mesma coisa. Afinal
não se trata de portugueses e, embora colectados não estão recenseados, por
isso também não são eleitores. Além disso iriam decerto pigmentar desnecessariamente
de tonalidades inconvenientes a alvura delicada das páginas da revista Caras;
talvez mesmo ofuscar-lhes o brilho acetinado - não ficava bem. Por isso
Santana foi ao porto da Figueira visitar a fina-flor da classe
operária figueirinhas – é muito mais clean.
Lá chegada a comitiva, na qual pontificava Paulo Mariano, o
primeiro candidato à Assembleia Municipal, foi visitar a OPERFOZ (empresa da
qual o senhor Mariano é um garboso accionista) e auscultar as
necessidades e problemas que os estivadores sentem. Foram
recebidos pelo presidente do sindicato dos trabalhadores portuários da Figueira
da Foz, Manuel Gonçalves. E foi aí que, na presença do patrão e depois de uma
conversa franca e aberta de ambas as partes, Manuel Gonçalves abriu
finalmente o livro de reivindicações.
Agora segurem-se. Gonçalves podia ter falado da condição dos estivadores
precários (os novos ganhões, conhecidos no cais por “pipocas”, por não
terem vínculo laboral) ou da segurança no trabalho, referindo mesmo o caso
recente de um traumatismo craniano de um colega seu (precário) transferido com
urgência para Coimbra por o hospital local não possuir serviço de cuidados
intensivos. Mas não era a mesma coisa. Sim, porque o hospital distrital até tem
um belíssimo parque de estacionamento exterior e uma magnífica pista de slalom
até às urgências, mas não tem cuidados intensivos, nem maternidade,
nem sequer gabinete de medicina legal. Talvez um putativo presidente de câmara
municipal que promete aos papalvos fazer da Figueira a capital do mar e centros
de ciência e de investigação pudesse fazer algo para ajudar a
resolver problemas afinal tão comezinhos. Mas qual quê.
Tal não ocorreu a Manuel Gonçalves. O que preocupa realmente o presidente do
sindicato dos trabalhadores portuários figueirinhas não são os direitos
laborais dos trabalhadores eventuais, nem a segurança no trabalho, nem o direito
dos trabalhadores a serviços essenciais de proximidade, nem, por solidariedade
ou decência cívica, a dignidade humana dos seus colegas da Lusiaves.
Mas então o que pode fazer alguém que já tem tudo senão ajudar quem
realmente precisa? Foi assim que Gonçalves lá abriu o livro e recitou algumas
medidas que gostavam de ver aplicadas frisando um ponto incompreensível, que é
o facto deste ser o único porto do país onde um camião tem de pagar para entrar
(2,85 €).
Perceberam? A principal reivindicação do sindicato dos trabalhadores
portuários da Figueira da Foz é a resolução dos problemas de tesouraria do
seu patrão. Não é lindo e comovente? É fantástico. Com sindicatos assim
fofinhos a CIP não precisa de solicitadores, nem Paulo Mariano de advogados. E
o putativo futuro presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz também já
tem tudo para, junto da tutela, ajudar a resolver os problemas
empresariais do seu candidato à Assembleia Municipal. Porque uma mão lava a
outra. Pois, como dizia mestre Gil, assi se fazem as cousas na
paróquia. Com duas lousas.
1 comentário:
É destes idiotas úteis que o capital precisa e, infelizmente eles existem em todos os lados, proliferam como cogumelos selvagens.
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