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segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Graciliano Ramos


 

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Como já referi algures neste blogue, hoje quase só releio. Ultimamente tenho andado às voltas com São Bernardo e Vidas Secas. Duas pérolas da língua portuguesa. Graciliano Ramos. Um Clássico, “esse sertanejo de Palmeira dos Índios nasceu clássico, um clássico brasileiro”, como referiu o seu amigo Jorge Amado. Conciso (frases curtas, sucessivas - como traços e pontos que, implacáveis, de premeditados, compõem um desenho magistral). Quase esquálido. Sem ornatos nem violetas. No osso. E, no entanto, de uma tensão e uma intensidade exuberantes, quase expressionista.

Tentei desenhar-lhe um retrato assim sucinto. Receio, todavia, que não tenha chegado nem perto da eloquência que revela o que ele mesmo fez de si próprio aos cinquenta e seis anos de idade (haveria de morrer cinco anos depois).

Graciliano Ramos 

Nasceu em 1892, em Quebrangulo, Alagoas.

Casado duas vezes, tem sete filhos.

Altura 1,75.

Sapato n.º 41.

Colarinho n.º 39.

Prefere não andar.

Não gosta de vizinhos.

Detesta rádio, telefone e campainhas.

Tem horror às pessoas que falam alto.

Usa óculos. Meio calvo.

Não tem preferência por nenhuma comida.

Não gosta de frutas nem de doces.

Indiferente à música.

Sua leitura predileta: a Bíblia.

Escreveu “Caetés” com 34 anos de idade.

Não dá preferência a nenhum dos seus livros publicados.

Gosta de beber aguardente.

É ateu. Indiferente à Academia.

Odeia a burguesia. Adora crianças.

Romancistas brasileiros que mais lhe agradam: Manoel Antônio de Almeida, Machado de Assis, Jorge Amado, José Lins do Rego e Rachel de Queiroz.

Gosta de palavrões escritos e falados.

Deseja a morte do capitalismo.

Escreveu seus livros pela manhã.

Fuma cigarros “Selma” (três maços por dia).

É inspetor de ensino, trabalha no “Correio do Manhã”.

Apesar de o acharem pessimista, discorda de tudo.

Só tem cinco ternos de roupa, estragados.

Refaz seus romances várias vezes.

Esteve preso duas vezes.

É-lhe indiferente estar preso ou solto.

Escreve à mão.

Seus maiores amigos: Capitão Lobo, Cubano, José Lins do Rego e José Olympio.

Tem poucas dívidas.

Quando prefeito de uma cidade do interior, soltava os presos para construírem estradas.

Espera morrer com 57 anos.

Por Graciliano Ramos

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2 comentários:

cid simoes disse...

A 'Ficção Completa' ESTÁ EDITADA EM DOIS VOLUMES pela Editora Nova Aguiar (2009)e apetece-me reler.

cid simoes disse...

Confundi Graciliano Ramos com João Guimarães Rosa, as minhas desculpas.