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segunda-feira, 24 de agosto de 2020

O barão.

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Se não temos cuidado, os media fazem-nos odiar as vítimas e amar os algozes 

Malcolm X

Miguel Guimarães é o bastonário dos barões da medicina (quer dizer que é ele que leva o bastão). Para ele, a sua “ordem” tem legitimidade para fiscalizar tudo o que lhe apetecer. Miguel tem boa imprensa, ou seja, não é por ali que lhe sobrevem alguma fiscalização. Aliás, e a propósito, sobre ordem e fiscalizações leiam este texto límpido pela pena bem temperada de Manuel Jorge Marmelo).

Miguel Guimarães é o bastonário de toda uma “ordem” que nunca escondeu a sua oposição ao Serviço Nacional de Saúde. O sonho de uma assistência médica acessível a todos por direito, materializado num serviço público por António Arnault e aprovado pelas forças mais progressistas da sociedade portuguesa foi sempre, desde o dia da sua aprovação, o pior pesadelo daqueles que acham que a assistência médica deve ser apenas privilégio exclusivo de quem pode pagar. São os mesmos que também se outorgam a propriedade do igualmente muito exclusivo privilégio de a vender e até (e sobretudo) o de lhe estabelecer o tarifário: os barões da medicina.

A verdade é que, tal como a medicina, a imprensa também tem barões. E a imprensa de que estes barões são donos só é “boa” para quem serve os interesses do baronato.

António Costa, por exemplo, que parecia um político experiente (um político experiente não é o que diz a verdade, nem sequer o que realmente pensa, mas apenas o que lhe é conveniente) foi apanhado ingenuamente e será certamente estrafegado nos próximos dias ou semanas pela boa imprensa dos barões porque - num áparte, em off - se permitiu partilhar o que lhe ia na alma com jornalistas do espesso do Balsemão (um barão da imprensa). Depressa, numa curiosa mas reveladora transumância de informação, a indiscrição foi tornada pública através do site de extrema-direita do Chega.

A verdade é que se informação é poder, não admira que seja partilhada, em notória promiscuidade, entre diversos baronatos. Os que têm os mesmos interesses.
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2 comentários:

cid simoes disse...

Formamos médicos com os nossos impostos (só a especialidade de cada um fica-nos por 500 mil euros); canudo na mão e juramento no bolso o sôdótor abre estaminé e, soberbo, cobra-nos a consulta. E até há médicos gatunos e outros que no SNS despacham os doentes para os seus consultórios. Esta é uma história tão comprida…

X Dias Longo disse...

Isto só é possível porque são eles próprios que regulam a entrada para a faculdade e assim só são formados os que eles querem, mantida maior procura que a oferta podem pedir o que querem porque são sempre muito imprescindíveis e intocáveis.
Amigos faz falta concorrência a esta gente.