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segunda-feira, 8 de abril de 2019

O genoma do gambuzino ou a fé na treta


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Ensinar não é transferir conhecimento mas criar as possibilidades de o produzir 

Paulo Freire
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Em Portugal, a prática das medicinas alternativas está legalizada desde 2003. Em 2013, a sua prática foi regulamentada. Há pessoas, como David Marçal, por exemplo, que acham que isto “é como legalizar o comércio de torradeiras avariadas”.
Ah, a lei que regulamenta a sua prática, também autoriza as universidades a criarem licenciaturas, doutoramentos e mestrados nessas áreas do, digamos assim, conhecimento. Ou seja, as universidades, esses templos da ciência (do conhecimento testado), também sancionam algo que “parte de uma base não científica“. David Marçal, ainda ele, não se conforma: “Não faz sentido criar licenciaturas em coisas que não têm fundamentação científica. Dizer que estas práticas funcionam até porque são dadas num curso superior é dar-lhes uma credibilidade artificial. Também devemos dar cursos superiores de astrologia?
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Dito de outro modo, se a assembleia (o povo, através dos seus representantes) reconheceu o gambuzino, a universidade portuguesa identificou-lhe o genoma. A seguir dividiu-o em cátedras. E, assim, o ensino superior passou a sancionar a treta e até a formar os seus especialistas. Em graus: licenciados, doutorados e mestres. Os especialistas da treta.
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Mas não é só David Marçal que se insurge contra este verdadeiro culto da treta – ou seja, do logro e da estupidez armada aos cágados - também há este senhor
Mas não é só através da denúncia e do escárnio que se combate a fé na treta. A arma mais demolidora desta forma insidiosa de estupidez, de ignorância armada, é a educação; o problema é quando e aonde, como agora em Portugal, a estupidez é ensinada a gente grande, em escola superior. Eu refiro-me à verdadeira Educação (deve ser pronunciada à maneira de Mário Viegas: ”es-co-la”).
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É por isso que Paulo Freire é o nome mais odiado pela clique que manda agora no Brasil (talvez mais até que o do próprio Lula). Porque Freire, o mentor de uma educação para a consciência, defendia, como objetivo da escola, ensinar o aluno a "ler o mundo" para poder transformá-lo.
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O Bozo e os nazionários chamam-lhe doutrinário e odeiam-no porque uma gente educada nesta pedagogia é muito céptica em relação ao calcitrim, ao céu, ao inferno, ao cogumelo do tempo, aos benefícios da acumulação, aos meninos de azul e às meninas de rosa, à frigideira que frita sem gordura (especial porque tem tampa mas se comprar já recebe a tampa grátis), aos gestores não-executivos, aos zingarelhos para ouvir melhor, às curas milagrosas do bispo Edir Macedo, às maravilhas de empreendorismo, aos milagres de Fátima, às leis do mercado – isto é, perde completamente a fé na treta - na, esta sim doutrinação, da ignorância. E isso eles não perdoam.
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