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Ensinar não é transferir conhecimento mas criar as possibilidades de o produzir
Paulo Freire
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Em Portugal, a prática das medicinas alternativas está
legalizada desde 2003. Em 2013, a sua prática foi regulamentada. Há pessoas,
como David Marçal, por exemplo, que acham que isto “é como legalizar o comércio
de torradeiras avariadas”.
Ah, a lei que regulamenta a sua prática, também autoriza as
universidades a criarem licenciaturas,
doutoramentos e mestrados nessas áreas do, digamos assim, conhecimento. Ou seja, as universidades, esses templos da ciência
(do conhecimento testado), também sancionam algo que “parte de uma base não
científica“. David Marçal, ainda ele, não se conforma: “Não faz sentido criar licenciaturas em coisas
que não têm fundamentação científica. Dizer que estas práticas funcionam até
porque são dadas num curso superior é dar-lhes uma credibilidade artificial.
Também devemos dar cursos superiores de astrologia?”
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Dito de outro modo, se a assembleia (o povo, através dos
seus representantes) reconheceu o gambuzino, a universidade portuguesa
identificou-lhe o genoma. A seguir dividiu-o em cátedras. E, assim, o ensino
superior passou a sancionar a treta e
até a formar os seus especialistas. Em
graus: licenciados, doutorados e mestres. Os especialistas da treta.
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Mas não é só David Marçal que se insurge contra este
verdadeiro culto da treta – ou seja, do logro e da estupidez armada aos cágados - também há este senhor.
Mas não é só
através da denúncia e do escárnio que se combate a fé na treta. A arma mais demolidora desta forma insidiosa de
estupidez, de ignorância armada, é a educação; o problema é quando e aonde,
como agora em Portugal, a estupidez é ensinada a gente grande, em escola superior. Eu refiro-me à verdadeira Educação
(deve ser pronunciada à maneira de Mário Viegas: ”es-co-la”).
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É por isso que Paulo Freire é o nome mais odiado pela clique que manda agora no Brasil (talvez
mais até que o do próprio Lula). Porque Freire, o mentor de uma educação para a consciência, defendia,
como objetivo da escola, ensinar o aluno a "ler o mundo" para poder
transformá-lo.
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O Bozo e os nazionários chamam-lhe doutrinário e odeiam-no porque uma gente educada nesta pedagogia é
muito céptica em relação ao calcitrim,
ao céu, ao inferno, ao cogumelo do tempo, aos benefícios da acumulação, aos
meninos de azul e às meninas de rosa, à frigideira que frita sem gordura (especial porque tem tampa mas se comprar já
recebe a tampa grátis), aos gestores não-executivos, aos zingarelhos para
ouvir melhor, às curas milagrosas do bispo Edir Macedo, às maravilhas de
empreendorismo, aos milagres de Fátima, às leis do mercado – isto é, perde completamente
a fé na treta - na, esta sim doutrinação, da ignorância.
E isso eles não perdoam.
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