.
A Primavera, é sabido, chega cada vez mais cedo. Os dias
amenos desinibem. Até a estupidez (sobretudo esta) desabrocha, rutila,
resplandece. E com ela o carnaval.
Na Venezuela, por exemplo, o auto-proclamado rei-momo,
defende alegremente uma invasão militar estrangeira. Guaidó (é esta a sua
graça) foi designado presidente interino
por uma comissão presidida à distância pelo vice dos Estados Unidos, o
não-menos carnavalesco Mike Pence. Foi imediata e internacionalmente
reconhecido pelos Estados Unidos e por um sem número de governos, entre os quais o
nosso. é carnaval, ninguém leva a mal, aposto que devem ter pensado. Os Estados Unidos são presididos por Donald Trump, alguém também
bastante carnavalesco, não desfazendo.
.
Já no Brasil, o carnaval não é um chá dançante. O rei Momo
é o presidente eleito. Trata-se de um ex-capitão, expulso do exército por
insubordinação, que comanda um governo vice-presidido por um tal de Mourão,
general no activo. O governo é constituído em partes equilibradas por militares
obtusos, bancarroteiros fanáticos (ou vice-versa) e uma beata, igualmente
fanática e obtusa; todos no activo.
.
Em Portugal o presidente perde popularidade. É verdade. O
povo viu finalmente o cu ao populismo. Estava escrito nos astros (vinha no Sol). Para a próxima, Marcelo perde para
o Tino de Rans, logo à primeira volta. Digam lá que isto não tem potencial
carnavalesco.
.
Potencial carnavalesco tem a Câmara Municipal de Torres
Vedras que patrocina o carnaval das matrafonas. Cem anos depois da implantação
da República retirou obedientemente uma imagem farsola do cortejo (uma virgem
com cara de bola) para não melindrar a santa sensibilidade da igreja católica
local, essa inefável e carnavalesca congregação pederástica de matrafonas. O
que todavia torna tudo ainda mais carnavalesco é a reverência geral, a bonomia
do respeitinho; como se a aceitação
pacífica de uma arbitrariedade imbecil fosse um facto da vida, uma coisa natural.
.
Ainda em Portugal, na Figueira da Foz, onde como é sabido o
carnaval nunca acaba (na sua peculiar tradição secular o ano figueirinhas não
tem quarta-feira de cinzas). O rei e
a rainha do carnaval foram recebidos nos paços do concelho com pompa e
circunstância e Avelino Gaspar, o patrão da Lusiaves (empresa condecorada pelo
município por altruísmo) foi acusado
plo ministério público de insolvência dolosa e branqueamento de capitais, ou
seja, bancarrotismo.
Ainda na Figueira, o pugrama do Jotalves vai para uma
segunda temporada. As coisas boas e realmente relevantes nunca acabam.
.
Entretanto, o grande educador da classe operária, o
camarada Arnaldo Matos, bateu a caçuleta; esticou o pernil, foi fazer tijolo.
O revolucionário
mais bem visto pelas elites moderadas
do país – tinha, dizem, um particular
gosto em conversar com o Dr. Mário Soares - entregou a alma ao criador, como referiu Pacheco
Pereira. Dele disse também o presidente Marcelo que “ficará na memória de todos como um defensor ardente da liberdade”.
Segundo o circunspecto Observador,
a principal actividade política do camarada Arnaldo no último ano e meio passou
plo twitter. Tinha 3500 seguidores directos. Foi através desta plataforma que
chamou “monhé” a Costa, ”putedo” á geringonça, apelou à luta armada, desejou as melhoras a Marcelo,
defendeu os atentados terroristas de Londres e, preocupadíssimo com a saúde do
papa, alertou que o palco dos encontros
da juventude é um local “difusor de legionella”.
Ah, mas o “nosso
rasputinezinho”, como lhe chamava Natália Correia, não foi para câmara de
gás (foi cremado) sem o protagonismo (ainda que passivo) em mais um episódio, o
derradeiro, carnavalesco: o seu partido (o émeérrepêpê, porra) foi ardentemente acusado pelo filho de lhe
sequestrar o cadáver que arrefecia no velório.
Mainada. O carnaval avança a todo o vapor.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário