.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Tim Maia

Fiz uma dieta rigorosa.
Cortei álcool, gorduras e açúcar.
Em duas semanas perdi 14 dias.
Tim Maia
.
Apesar de completamente desconhecido em Portugal, Tim Maia era uma das melhores vozes negras do Brasil. Negras sim, caretinhas. Há mesmo música negra no Brasil; e da boa. Tal como racismo; e do feio; muito. A harmonia racial brasileira, o mesticismo cultural, só existe nos devaneios tropicalistas de Gilberto Freyre e aficcionados.
.
Para ele, “génio complexo e contraditório”, “não tem esse negócio de mulato. Para lá de branco é preto mesmo”. Senhor de uma voz profunda e um carisma à mesma altura, Tim, “preto, gordo e cafageste” como se auto-definia, também era dono de um sentido de humor desconcertante, tão devastador como o seu temperamento. “Este país não pode dar certo. Aqui puta goza, cafetão tem ciúme e pobre é de direita”, dizia ele do Brasil. 
Com um histórico de conflitos com as gravadoras, foi o primeiro artista brasileiro a criar um selo próprio, nos anos setenta. Entretanto algo mudou no seu país (enfim, os pobres já não são todos de direita) mas o sistema nunca lhe perdoou.
.
A rede Globo, que ele processou várias vezes por direitos autorais e que o boicotou durante anos, editou agora um telefilme biográfico “de homenagem” que, no entender da família e dos amigos, “é um caso de polícia”. A emissora, que apoiou a ditadura e continua o mais influente difusor da cultura do preconceito no Brasil, deleita-se aí - além de alterar datas e factos desfigurando tudo - a “branquear”(!) o seu arqui-inimigo de estimação - o canastrão Roberto Carlos. Morto, a emissora faz o que ele nunca permitiu: apropriou-se de Tim Maia. Roberto Carlos é apenas mais um detalhe feio nesse vale tudo”.
.

A estupidez não esquece os que a afrontam; e nunca lhes perdoa. Nem depois de mortos.
.

Sem comentários: