.

sábado, 22 de dezembro de 2012

O fim do mundo



 “Diz-se geralmente que, em Portugal, o público tem a ideia de que o governo deve fazer tudo, pensar em tudo, iniciar tudo; tira-se daqui a conclusão que somos um povo sem poderes iniciadores, bons para ser tutelados, indignos de uma larga liberdade e inaptos para a independência” Eça de Queiroz
.
,
As previsões dos maias não se cumpriram. Ontem não foi ainda o fim do mundo.
Já quanto a Portugal, os receios de Eça de Queiroz cada vez mais se confirmam. 
.
O país continua inefavelmente entretido na sua luta contra o défice do estado, essa hidra estrutural.
Enquanto as elites (os banqueiros e toda a classe dominante, os partidos do arco-da-governação e o caralho) são unânimes na ideia cínica de que só a miséria generalizada pode salvar o estado do défice e a pátria da degenerescência - a classe dominada acredita pia e alarvemente na caridadezinha e segue religiosamente a casa dos segredos, os episódios da crise do zebordengue e do natal dos hospitais e o futebol e as conversas em família do afilhado do Marcelo, catano, na TVI.
.
No entanto, para além de serem “indignas de uma larga liberdade e inaptas para a independência”, uma e outra (a elite e o lúmpen) concordam ainda numa outra “decisão estratégica”: deixaram de se reproduzir. 
É verdade, os portugueses já não partilham com os outros animais o mais elementar instinto de sobrevivência. Já nem sequer fodem; e se por acaso ainda o fazem, é apenas por puro entretenimento, ou simples evasão. Ou seja, as gerações já não se renovam. Este ano, pela primeira vez na História, nasceram menos portugueses do que aqueles que morreram.
Portugal tem os dias contados.
Os piores vaticínios de Eça estão não só confirmados por atávicos hábitos ancestrais como ultrapassados por novos costumes, adquiridos.
.

A boa notícia para o mundo é que isto também não será o fim. Imagino até que seja um alívio.
.

1 comentário:

cid simoes disse...

Nos 'Maias' o Eça não vaticinou o fim do mundo. Esses gajos andam a ler o livro de pernas para o ar. A propósito: o próximo fim do mundo é para quando?