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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Sines, 2012


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Estive em Sines. Festival de Músicas do Mundo, dizem eles. 
Três dias bem passados (muita boa música e outra que nem tanto) que foram uma revelação. Julgo ter descoberto finalmente porque nada muda neste país: o acrisolado amor da juventude portuguesa pela navegação em água choca, à bolina.
Eu explico.
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À semelhança de outros festivais de Verão o de Sines, supostamente de músicas alternativas e sem rótulo, também é promovido por uma marca de bejecas - o seu logo rutila, luminoso, no interior das muralhas da casa de Vasco da Gama, o seu castelo e palco da ocorrência.
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Ao contrário da minha geração para quem, em eventos do género, a opção óbvia era furtiva e por substâncias voláteis e proibidas, a este festival acorre uma outra que exibe, a céu aberto, uma afirmativa preferência pelo consumo imarcescível de substâncias entorpecentes líquidas - sobretudo por uma, alcoolizada, gaseificada, amarela e autorizada. Transportam-na deleitados, ao sol, pelas ruas, pela praia e até durante os concertos, em garbosas e ambarinas litrosas que partilham a toda a hora em equitativos copinhos de plástico - é nessa espécie de caldo amniótico açucarado e viscoso que marinam, durante os dias do festival, os cerebrosinhos de toda uma geração que nada questiona e nada quer mudar - o que a move não é a insatisfação ou a luta; é o querer esquecer, a simples evasão.
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Não admira pois que todo este beautiful people fique indiferente às provocações assertivas do sarcástico e genial Socalled, ao verbo barroco do brasileiro Lirinha ou aos conselhos avisados do venerável Hugh Masekela, por exemplo, mas exulte num transe eufórico e colectivo à mais pequena distorção, curto-circuito ou aumento de decibéis. 
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É aliás o mesmo transe hipnótico e embrutecido que o faz, au petit matin (às quatro da madrugada), caiar de mijo infecto a muralha do castelo e pavimentar de vomitado ignóbil o calçadão da praia; enfim, são os custos da abulia colectiva - que não parece perturbar muito os pruridos de higiene pública dos poderes instituídos – o alto-patrocínio da marca das bejecas deve compensar todos os incómodos e até as despesas.
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Aos leitores precipitados: não sou dos que pensam que no meu tempo é que era. Nada disso. A minha geração, por exemplo, é o caso típico de uma geração que nunca o foi: uma geração que se deixou representar por um José Sócrates, um Passos Coelho, um Relvas, um Viegas ou um Paulo Portas.  Um verdadeiro coio de indigentes, portanto. O meu lamento é a constatação límpida que esta vai pelo mesmo caminho: o da evasão e do esquecimento.
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A foto que ilustra esta posta tirei-a numa rua de Sines esta semana. Creio que ilustra também, de certo modo, o ponto em que estamos. Todos.
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2 comentários:

cid simoes disse...

Durante o outro fascismo os jovens não se apercebiam da situação em que viviam e foi com muito trabalho nosso, nem sempre compensador, que alguns tomaram consciência de que não viviam em liberdade. Hoje pensam que isto é liberdade e muito lentamente vão aprendendo que a carta de alforria lhes foi confiscada.

Rogério G.V. Pereira disse...

Sugiro que o aviso (Aos leitores precipitados) passe a bold

(acho que vou "roubar-lhe" a foto, não sei...
não sei ainda o que lhe farei)