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domingo, 22 de julho de 2012

José Vilhena


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Estando eu, um dia, às seis horas da tarde, sentado na minha biblioteca a pensar escrever um desses livros que tanta fama me dão, vi descer do céu um anjo que me disse: «José, porque não contas a história do Povo Eleito?


José Vilhena, in História Universal da Pulhice Humana

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Todos os povos da Hespanha estão na rua, falam uns com os outros, indignam-se, discutem e protestam ruidosamente contra as receitas de austeridade adoptadas por quase todos os governos da frente ocidental que claudicaram perante o internacionalismo monetário. 
Todos, menos um.
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O de Portugal está em casa. No sofá. Acomodado. Acha que não há alternativa credível.
No entanto, o povo da ocidental praia lusitana também está indignado. Mas falta-lhe, como referia Miguel Torga, “o romantismo cívico da agressão”. O que lhe sobra é uma espécie de cinismo individualista da passividade que ele expressa, aliás, em forma de assim: uma abstenção violenta de cariz compulsivamente onanista.
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-É pois em casa, no sofá, que em tardes de Julho e de canícula esta gente mansa segue atenta, e porque não dizê-lo apaixonadamente, pelo Face-Book, tudo o que se passa nas praças de Espanha.
-E, furtivamente deleitada, também não perde pitada, pela têvê, da época dos fogos - a temporada está ao rubro e as próximas serão de ar-ra-sar, como as intenções do governo de eucaliptalizar ainda mais o país, aliás, indiciam .
-Ah e ri-se, alarvemente, também plo Face-Book, das anedotas do relvas (é da índole da fraca gente deleitar-se com quem tropeça, com quem cai, dos infelizes e dos vencidos).
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Como dizia Camilo Castelo Branco “os portugueses não sabemos rir com espírito; gargalhámos com os queixos”. Não admira por isso que o 85º aniversário do grande José Vilhena não lhes tenha chamado a atenção.
José Vilhena é um humorista que toda a vida cultivou, coerentemente, um humor  implacável e sem eufemismos. Trata-se de um cidadão a quem nunca faltou o “romantismo cívico da agressão”; um português raro, portanto.
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Afinal foi este homem de carácter, que lhes fez o retrato mais bem acabado. 
Ora digam lá se o desenho que reproduzo acima (que catei na net ao acaso)  não é o retrato escarrado e escarrapachado de todo um povo que acredita piamente que não existe alternativa credível nem vida para além da Troyka e que o único caminho para a prosperidade é o empobrecimento geral.
Tá na cara.

Parabéns, Mestre. 
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2 comentários:

maria joão carrilho disse...

Bastante precisada deste romantismo cívico da agressão,soube bem deparar-me com o retrato bem português de acreditar na senhora de fátima e que capados, decepados de tudo, havemos de " voltar".

Lembro-me bem dessa cultura em que os desenhos do Vilhena eram considerados impróprios para consumo de meninas bem comportadas. E nós, criancinhas empreendedoras, recortávamos as bonecas e fazíamos -lhes vestidos de papel.

Nem que fosse só por isso, obrigada José!

Elísio Alfredo disse...

Parabéns, ó Sítio dos Desenhos!...