Nada há tão perigoso como
ser excessivamente moderno. Existe a tendência para ficar fora de moda sem se
dar por isso.
Oscar
Wilde
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Esta posta não é sobre Cristiano Ronaldo.
É, um pouco, sobre o patriotismo, mas
sobretudo sobre a sua iconografia - a propósito do patriotismo e de uma das
suas variantes mais patuscas já me pronunciei, aliás, aqui.
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Cristiano Ronaldo é um ícone adorado (um
símbolo patriótico) pelos portugueses de mais baixa extracção – ele representa
para eles uma certa ideia de sucesso - o êxito na vida pela via, hedonista, do
chuto na bola.
É todavia preciso que se diga que, para se
ser um ícone patriótico para os portugueses é necessário – imprescindível - ter-se
êxito no estrangeiro. Ou seja, os portugueses gostam de gostar de algo de que toda
a gente gosta “lá fora”, como eles gostam
de dizer.
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Todavia, se o lúmpenproletariat tuga tem um
símbolo à medida dos seus ideais - com imenso êxito no estrangeiro - a fina flor
dos portugueses (a classe por assim dizer, mais sofisticada) também tem a
sua ideia acerca de vencer na vida através desse prazer de agradar. E também tem o seu herói, o seu símbolo de
sucesso, o seu íconezinho.
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O íconezinho, ou herói, da classe sofisticada portuguesa é
uma heroína. Chama-se Joana Vasconcelos e é “artista”. Tem êxito, muito; e no
estrangeiro, como os tugas gostam. Ela “recicla conceitos” e o seu material de
trabalho são os símbolos, os ícones do quotidiano pimba português. Já me referi
ao seu trabalho aqui (de raspão) e aqui (em cheio). Ela transforma o pimba-lúnpen
em pimba-chic,
comercializa e exporta. É um êxito.
Os estrangeiros gostam; os bifes então, a-do-ram. E agora também
os franciús. Foda-se. Só visto.
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Acaba de inaugurar uma exposição de coisas patuscas
no chatô de versalhes meudeus (sucede
a artistas como Jeff Koons e Takashi Murakami, eles próprios ícones
de um certo género, mas curiosamente
não o patriótico, nos seus países
respectivos).
Atafulhado agora com as coisas da Joana, Versalhes, aquela
espécie de bordel rococó flamejante até parece um templo clássico, puta que o
pariu.
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Mostrando como a fina-flor dos nossos senhoritos
se sente identificada com Joana, esse fenómeno, Paulo Portas, o ministreiro dos negócios estranhos já
disse: ela é “genial, internacional, tradicional
e empresarial” e “mostra um Portugal “criativo, contemporâneo, na moda e actual”.
Nem mais. Palavras para quê.
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Eu hoje acordei com veia iconoclasta. Anti-patriótica.
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1 comentário:
Acordo tantas vezes assim... só que não sei me exprimir...
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