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O Casino da Figueira (ou a empresa que o detém) ocupa
(como já enunciei aqui) um lugar ímpar no imaginário colectivo figueirense.
O Casino (ou a entidade que o detém) sempre pôde dizer de
si próprio e da Figueira da Foz algo similar ao que se dizia da General Motors e da
América: “o que é bom para Figueira-Praia, é bom para a praia da Figueira (ou
vice-versa).
O Casino (ou a sociedade
que o detém) está para a política e para a vida cívica na Figueira mais ou menos
como a Alemanha para o futebol: os partidos e os candidatos digladiam-se até ao
insulto, por vezes até à abjecção, mas no fim ganha sempre a Figueira-Praia.
- A firma paira, assim, sempre acima de crises conjunturais e de
querelas eleitorais. Nunca um seu responsável se envolveu, directa e
pessoalmente, na política; jamais foi julgado necessário pois os seus
interesses nunca foram postos em causa, ou sequer discutidos, por qualquer
executivo municipal - eleito ou nomeado.
Até agora.
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Sim, porque uma longa cadeia de frios gestores-de-casino
do mais discreto perfil acaba de ser quebrada por este homem: Domingos Silva;
ou, como dizem os figueirinhas (parece que estou a ouvi-los) odótordomingoxilva-faxavôr.
Não que o actual e consabidamente inofensivo executivo
municipal, de cariz vagamente sucialista
liderado pelo juiz Ataíde, tenha de algum modo, mesmo fortuito, beliscado os
superiores interesses da firma, não.
Apenas porque sim. Ao que tudo indica, o dótordomingoxilva,
o gestor do casino, ter-se-á fartado de gerir a privada e terá decidido (supõe-se
que superiormente aconselhado) ir gerir a respública.
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Domingos Silva é um mestre do marketing e um empresário
de variedades reputado. Foi ele que redescobriu velhos talentos com capacidades
histriónicas e de comunicação invulgares (como Medina Carreira, por exemplo) e foi transformando o Casino em agenda
e palco nacional de novas atrocidades para uma velha ideologia, agora triunfante (em
breve, por exemplo, o casino será o palco das festividades da comemoração do aniversário
do PSD).
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Aparentemente, segundo alguns dos seus detractores,
Domingos Silva estará disposto a sacrificar tudo, até mesmo a sacrossanta
prosperidade da firma (terá já
despedido 80 trabalhadores enquanto contrata jornalistas de entretenimento, como Fátima Campos Ferreira, a dez mil euros a vezada).
Para cumprir o sonho de se sentar na cadeira de Santos
Rocha, aposta na autopromoção e em simultâneo, no desprestígio da gestão do
pobre juiz Ataíde e da sua equipa. Para tal, o senhor Silva terá mesmo constrangido
o boletim oficial da firma a abandonar a sua estrita tradição de rigorosa
neutralidade política. O semanário O
Figueirense, habituado desde sempre ao rapapé, ao beija-mão, ao lambe-cú, está profundamente descaracterizado; dirigido por um advogado avençado passou a
louvaminhar apenas, e em exclusivo, o dótordomingoxilva,
veiculando abertamente uma sistemática oposição ao actual executivo. O pessoal
do casarão da avenida Saraiva de Carvalho vive agora em alvoroçada e dolorosa vigília, sempre na expectativa
do próximo editorial de Joaquim Gil (são semanais e cada vez mais panfletários,
incendiários e lambe-cus).
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Plenamente consciente do que representa “ir ao casino”
para os figueirinhas, é isso mesmo que ele faz, leva-os ao casino. Não há cão
nem gato nem grupo de bisca lambida, teatro amador ou filarmónica que já lá não
tenha ido, à borla, mostrar as habilidades – só têm que levar família e amigos e resignarem-se a um constrangido consumo mínimo - no fim, todos (de regentes de bandas a presidentes de
agrupamentos escolares) lambem o cu ao dótordomingoxilva e agradecem-lhe, encarecida e comovidamente, em alta-voz e alegre
apoteose, a superlativa generosidade.
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Cônscio pois do profundo significado da empresa que
dirige e encarna (o casino para os figueirinhas é uma catedral) tal facto faz
dele - embora se pareça com um inofensivo pároco de aldeia - uma espécie de
sumo pontífice, um cardeal, um príncipe.
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Contudo, este príncipe encantado deve ter (todos têm) o
seu maquiavel. Tudo indica que seja Joaquim de Sousa, de quem já vos falei aqui. Joaquim e Domingos já partilharam
aliás, outra aventura política (apoiaram ambos a candidatura de Cavaco, outro político de casino, a presidente da república
- com o êxito que se conhece).
Enquanto Domingos Silva dirige o casino, uma empresa que
gere as expectativas de fortuna dos
pacóvios, Quim de sousa dirige a Misericórdia,
uma entidade também etérea, que lhes gere as expectativas de miséria.
Trata-se, portanto, de um dueto da corda; uma dupla maravilha; um tandem de sucesso.
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