.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

O pesadelo da rua da Várzea

.
.


Embora tenha tido conhecimento do devaneio pederástico que acometeu o arquitecto Saraiva enquanto subia ao Chiado de elevador e dos desvarios vários que acometem ministros de variadas pastas do governo do país enquanto este desce aos infernos, quis manter-me, esta semana, longe da bloga.
Quando a realidade é demasiado acabrunhante tenho necessidade de algum non-sense e de “levantar” os olhos (do computador, dos papéis, das pinturas, dos desenhos). Por isso, entre outras coisas, “construí” um espantalho - do qual vos falarei em breve - e deambulei pela Figueira. Sempre que o faço, tenho o cuidado de evitar lugares um tanto óbvios ou demasiado pitorescos. Por isso, evitei escrupulosamente a marginal, o bairro novo e as Abadias e preferi a periferia. Debalde. O horrível está por toda a parte.
.
Rua da Várzea, na Figueira da Foz
.
A Rua da Várzea é uma antiga estrada rural que escapou ao traçado da rodovia urbana e “sobrou-lhe” das obras. Segue quase paralelamente ao troço desta que liga a rotunda do EPST à de Cristina Torres (ou vice-versa).
Noutro qualquer país, civilizado, teria sido transformada num aprazível e arborizado acesso pedestre, com uma possível ciclovia, à escola. Mas não neste país. Não na Figueira da Foz. Nesta cidade a solução encontrada é um fenómeno “urbanístico” que talvez só possa ser explicado por um especialista em psicopatologias muito complexas.
.
Trata-se isso sim, e como a foto documenta, de um pesadelo visual que, talvez por eu ser demasiado sensível à fealdade, me suscita outros pesadelos que desencadeiam outros, sempre mais malévolos, num curioso e incessante fenómeno sinestésico: faz-me lembrar Mexias & Catrogas, mais os seus salários e reformas, pornográficos; ou Motas & companhias de Jorges Coelhos e outros nefandos e corruptos figurões ou então vereadores locais cretinos e suas abébias, igualmente obscenas e venais. É algo infame, humilhante, profundamente miserável.
.
-Mas não é de admirar.
Neste país o arquitecto Saraiva, que agora dirige o jornal Sol, também dirigiu, durante anos a fio esse outro sol da democracia que é o jornal Expresso - e ninguém deu por nada – nunca ninguém suspeitou que o pobre homem era um atrasado mental.
Neste país um governo que acha que para baixo é sempre a subir, foi eleito democraticamente. Democraticamente.
.
Neste país, abrir simplesmente os olhos já é um pesadelo.
.

Sem comentários: